sábado, 13 de novembro de 2021

DICK FARNEY, 100 ANOS

 


14 de novembro de 1921 - 14 de novembro de 2021

Vale rever a saborosa história desse carioca,
NOSSO VIZINHO ILUSTRE!

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domingo, 7 de novembro de 2021

CECÍLIA MEIRELES, 120 ANOS


7 DE NOVEMBRO DE 1901- 9 DE NOVEMBRO DE 1964

Vale revisitar a trajetória dessa 
NOSSA VIZINHA ILUSTRE!

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quinta-feira, 3 de junho de 2021

120 ANOS, José Lins do Rego


1901-2021.

Segundo Otto Maria Carpeaux, 
José Lins do Rego era 
"o último contador de histórias".


Vale revisitar e rever um pouco da história desse 
NOSSO VIZINHO ILUSTRE.
Clique abaixo.


terça-feira, 18 de maio de 2021

domingo, 7 de fevereiro de 2021

REVISITANDO MÁRIO FILHO

 É tanta baboseira sendo dita, e proposta,  que vale reler pra saber quem é Mário Filho e o motivo da homenagem.

CHEGA DE APAGAR A HISTÓRIA! 

Clique na imagem abaixo e ...saboreie!





domingo, 1 de dezembro de 2019

NOEL ROSA

Nesse mês de dezembro, 
aniversário de Noel Rosa
falamos desse Nosso Vizinho Ilustre 
e sua grande intérprete, 
Aracy de Almeida.


  Rua Teodoro da Silva, 392 - Vila Isabel   




Resultado de imagem para noel rosaNoel Rosa - Noel de Medeiros Rosa - (1910 - 1937) , o Poeta da Vila, nasceu num domingo de manhã, no chalé da família, na rua Teodoro da Silva, entre a rua Visconde de Abaeté e a rua Souza Franco. Nasceu de um parto muito difícil e complicado, com problemas na mandíbula, o que lhe marcou as feições por toda a vida.

Adolescente, aprendeu a tocar bandolim de ouvido e tomou gosto pela música. Passou ao violão e cedo tornou-se figura conhecida da boemia carioca. Noel foi integrante de vários grupos musicais, entre eles o Bando de Tangarás desde 1929, ao lado de João de Barro (o Braguinha) e Almirante.

Compositor  e um dos maiores e mais importantes artistas da música no Brasil, em 1929, Noel arriscou as suas primeiras composições, Minha Viola e Festa no Céu, ambas gravadas por ele mesmo. Mas foi em 1930 que o sucesso chegou, com o lançamento do clássico bem-humorado Com que roupa?. Essa música ele se inspirou quando ia sair com os amigos, a mãe não deixou e escondeu suas roupas, ele, com pressa perguntou: "Com que roupa eu vou?"

Cronista do cotidiano, era considerado o "rei das letras" pelo poeta, e parceiro, Orestes Barbosa . Foram 259 composições criadas por Noel. Com certeza as mais belas vieram da sua parceria com Vadico, o paulistano Osvaldo Gogliano. Vadico, mudou-se para o Rio de Janeiro a convite da Casa Edison. Estava dedilhando uma melodia ao piano quando Eduardo Souto, diretor artístico da companhia, chamou Noel Rosa para escutar. O resultado do encontro, ocorrido em 1933, foi Feitio de Oração e outras nove composições criados nos quatro anos seguintes. Feitiço da Vila, Conversa de Botequim, Só pode ser você , Cem mil-réis, Pra que mentir? e Provei.

 Foi para a faculdade de medicina - alegria na família! - mas a única coisa que isso lhe rendeu foi o samba "Coração" - ainda assim com erros anatômicos.
O Rio perdeu um médico, o Brasil ganhou um dos maiores sambistas de todos os tempos.

Noel Rosa foi nosso vizinho ilustre no bairro de Vila Isabel, bairro que Noel nunca conseguiu ficar longe e que era um pouco sua casa. Ele o citou em quatro composições: Eu vou pra Vila, Bom Elemento, Palpite Infeliz e Feitiço da Vila.
No local onde Noel nasceu e morou na rua Teodoro da Silva 392  -  que por mudanças na geografia trocou de numeração várias vezes :inicialmente 30, depois 130 e finalmente 392  - onde hoje existe o Edifício Noel Rosa. Um terreno de 11 metros de frente por 66 metros de fundos onde o chalé da família de  Noel Rosa tinha salas de jantar e visita, 3 quartos, cozinha, dois banheiros e um quintal espaçoso com galinheiro e árvores frutíferas onde brotava limão, araçá,  goiaba, pitomba, abacate, romã e pitanga.



Noel Rosa também morou no bangalô, casa da vó Rita, na mesma rua Teodoro da Silva, mas no número 195. Ficou por lá até 1928, quando a avó morreu.


Genial, tirava até de brigas 
motivo de inspiração. 

Wilson Batista, outro grande sambista da época, havia composto um samba chamado "Lenço no Pescoço", um ode à malandragem, muito comum nos sambas da época. Noel, que nunca perdia a chance de brincar com um bom tema, escreveu em resposta "Rapaz Folgado"

 Deixa de arrastar o seu tamanco 
Que tamanco nunca foi sandália 
Tira do pescoço o lenço branco / 
Compra sapato e gravata 
Joga fora esta navalha que te atrapalha 

Wilson, irritado, compôs "O Mocinho da Vila", criticando o compositor e seu bairro. Noel respondeu novamente, com a fantástica "Feitiço da Vila".

A briga já era um sucesso, todo mundo acompanhando. Wilson retorna com "Conversa Fiada"

É conversa fiada 
Dizerem que os sambas 
Na Vila têm feitiço

Foi a deixa para Noel compor um dos seus mais famosos e cantados sambas, "Palpite Infeliz" . 

Wilson Batista, ao invés de reconhecer a derrota, fez o triste papel de compor "Frankstein da Vila" , sobre o defeito físico de Noel. Noel não respondeu.

Wilson insistiu compondo "Terra de Cego". Noel encerra a polêmica usando a mesma melodia de Wilson nessa última música, compondo "Deixa de Ser Convencido"

OUÇAM  AS MÚSICAS DA POLÊMICA...



Aracy de Almeida e Marília Batista 
disputaram o coração de Noel Rosa como suas intérpretes favoritas.


Marília Barbosa

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Araci de Almeida

 As duas, por sua vez, eram pessoas completamente diferentes. Aracy do subúrbio, Marília de família rica. Aracy, cantora de formação espontânea. Marília, formada em conservatório, que tocava em um violão espanhol e que tinha o sonho de ser concertista.  Gravaram, respectivamente, dez (Aracy) e seis (Marília) músicas de Noel, antes de sua morte. Mas foi à Marília Batista, que depois da morte de Noel Rosa, que D. Marta, a mãe do compositor, deu os manuscritos do filho. Mas Marília Batista entregou-os às mãos de Almirante, que os conservou cuidadosamente.


Primeiro sucesso de Araci de Almeida  em 1936



Primeiro sucesso de Marilia Batista em 1936


Curiosidade

 Noel Rosa foi um namorador, sem pensar em compromissos. E suas paixões renderam belas composições.

Da namoradinha da adolescência Clarinha (Clara Corrêa Neto), para quem Noel Rosa compôs “Não morre tão cedo”; passando poJosefina Teles Nunes (Fina), inspiradora de "Três apitos", uma de suas obras primas. Moça pobre se tornou operária da fábrica de botões “Hachiya”, para manter-se e ajudar a família. Ao fazê-la personagem de seu samba, porém, o poeta preferiu colocá-la como operária de uma fábrica de tecidos; Júlia Bernardes,  conhecida como Julinha, mais velha que Noel, e que atuava em diversos cabarés.Acontece que Julinha era meio chegada a um copo. A paixão não resistiu, mas tal romance inspirou “Meu barracão” e “Cor de cinza”.


O rádio faz história: Lindaura, a mulher de Noel RosaAí Noel conheceu Lindaura , de família tradicional, cuja mãe dona Olinda, a expulsou de casa, após saber que ele a levara a um hotel, afirmando que só a receberia de volta, casada. E Noel teve de se casar. Com o passar do tempo, o casamento forçado ficava mais difícil, e surgiram "Você vai se quiser" e "Cansei de pedir".

Na foto ao lado Noel e Lindaura.

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Mas ninguém, nem mesmo Noel, estava isento de cair nas garras de uma grande paixão. O cupido que flechou profundamente o coração do nosso Poeta da Vila foi Ceci (Juraci Correia de Moraes)  - foto à direita -que conheceu no Cabaré Apolo, na Lapa, enquanto Ceci exercia sua profissão de dançarina.
Nenhuma das outras namoradas de Noel Rosa foi motivo de tantas e tão boas canções como Ceci, a musa inspiradora de “Dama do Cabaré”, "Cidade Mulher", "Pra que mentir", "Cem mil réis", dentre outras.

O casamento de Noel e Lindaura incomodava Ceci.  No auge da sua beleza, recém contratada pelo cabaré Royal Pigalle, engatou um romance com um rapaz ligado ao meio artístico chamado Mário Lago. Tudo isso, aliado a outros acontecimentos como a perda do filho que Lindaura esperava e o agravamento de sua saúde, engendrou uma crise no relacionamento Noel – Ceci.

As brigas e discussões rolavam e a válvula de escape de Noel eram suas criações musicais.
Nesta época Noel fez uma das suas mais ricas composições, “Último desejo”, cujos primeiros versos eternizam o primeiro encontro que teve com Ceci, sendo, também, uma espécie de despedida.







ARACY DE ALMEIDA



 Rua  Almeida Bastos, 294 - Encantado   





Se Aracy dava voz ao sentimento feminino e era a intérprete ideal da sofisticação poética que Noel levou ao samba, ela também não descuidava da malandragem, que definia como “fuleiragem”. Ela dizia: “Eu era uma xavante”, “Eu sou a maior fuleiragem que existe”.

Considerada, ao lado de Marília Batista, uma das melhores intérpretes de Noel Rosa, é a própria Aracy quem conta seu primeiro encontro com Noel:

“Quando fui cantar no rádio pela primeira vez, levada por Custódio Mesquita, ao passar na varanda da Educadora, vi Noel. Estava sentado e ali continuou. Não deu bola nenhuma pra mim. Quando terminei de cantar ao microfone ele se aproximou: ‘Gostei muito, você cantou muito bem. De onde você é?”

Tratada por amigos pelo apelido de "Araca", Noel Rosa a definiu, em 1933, numa entrevista a Orestes Barbosa, para "A Hora":



"Aracy de Almeida é a pessoa Resultado de imagem para aracy de almeida
que interpreta com exatidão o que eu produzo".


Menina pobre, desde os tempos de criança sonhava em ser cantora de rádio, o que acabou acontecendo a partir de seu encontro com o compositor Custódio Mesquita, para quem cantou "Bom dia, meu amor", de Joubert de Carvalho e Olegário Mariano.

Nascida no Encantado, bairro do subúrbio do Rio de Janeiro, seu pai, Baltasar Teles de Almeida, era chefe de trens da Central do Brasil. Ainda jovem, cantava no coro da igreja Batista da qual seu irmão Alcides era pastor.

Cantava samba, mas era apreciadora de música clássica e se interessava por leituras de psicanálise, além de ter em sua casa quadros de importantes pintores brasileiros como Aldemir Martins e Di Cavalcanti. Os que conviviam com ela, na intimidade ou profissionalmente, a viam como uma mulher lida e esclarecida.


Com o fechamento dos cassinos, desapareceram os grandes espetáculos, com orquestras, corpo de baile e músicas apropriadas para um público maior. Começaram a pipocar, em Copacabana, as pequenas boates onde as canções intimistas de Noel encontraram um porto ideal para desembarcar de uma vez por todas. E quem cantava as suas músicas? Aracy.

E o jogo mudou também para ela. A antiga fuleira, que Noel apresentou à boemia barra pesada carioca, malandros e marginais, agora andava com intelectuais, cronistas e jornalistas. De 1948 a 1952, ela virou atração para o público rico da boate Vogue. Entoando a obra de seu mentor, e trazendo à luz músicas inéditas dele, os suburbanos Aracy e Noel conquistaram, definitivamente, a Zona Sul. 


A longa temporada na boate Vogue resultou num dos primeiros álbuns que hoje seriam chamados de “conceituais” da fonografia nacional: da primeira à última faixa, formando um todo, Aracy canta Noel. Com apresentação caprichada, arranjos de Radamés Gnattali, capa de Di Cavalcanti, o disco se tornou um sucesso imediato e jogou Aracy para o topo da parada de sucessos.








Em 1959, outra capa antológica para Aracy de Almeida, de Aldemir Martins, para LP em que canta sambas inéditos de Noel Rosa.

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Em uma entrevista, Vinicius de Moraes relembrou o tempo em que a conhecera:


Resultado de imagem para vinicius de Moraes e Aracy de Almeida“A partir de 1951 nos tornamos amigos. Ela saía sempre com o nosso grupo de boemia, que por essa época se constituía de Antônio Maria, Fernando Lobo, Paulo Soledade, Dorival Caymmi e uns quantos mais aderentes variáveis. Foi a época áurea da boate Vogue, do falecido barão Von Stuckart, onde Antônio Maria trabalhou uns tempos como relações-públicas. Na boca da madrugada, púnhamos Aracy no ‘seu táxi’ (pois ela tinha um praticamente a seu serviço) e lá partia ela para a sua casa no Encantado...Dois anos depois, eu lhe daria meu primeiro samba para gravar: o samba-canção, com música de Antônio Maria, “Quando tu passas por mim”.




Em 1952, Aracy declarou à Revista do Rádio: 


“Não gosto de viajar. Por isto não fico rica, pois o que dá mais dinheiro no rádio são as excursões. Não acredito no dia de amanhã, vivo no presente. Gosto de assistir e atuar em televisão. Não gosto de rádio. Meu ideal era ser funcionária pública, para ter horário de trabalhar, pois em rádio não se tem horário. Por isto é que digo: os barnabés é que são felizes”.


Consagrada pelo radialista César Ladeira com o apelido de “O Samba em Pessoa”, Aracy de Almeida nunca foi bonita. Desbocada e masculinizada, não atraía muito os homens. Já os seus principais amigos eram todos homens, como Antônio Maria, Vinicius, Fernando Lobo, Clóvis Graciano, Di Cavalcanti, Carlão Mesquita e Aldemir Martins. Também se dava bem com gays, como o estilista Denner e o cantor Murilinho de Almeida.


Denner foi o criador do modelo pelo qual ela viria a ser conhecida: calça comprida, porque ela já não ficava bem em vestidos; bota ortopédica, pois ela tinha pés chatos; e camisas da Vigotex, que a associavam ao imaginário psicodélico, reforçado pelo cabelo black power e os óculos de armação grossa.


Apesar de sua aparência, desde o final dos anos 50, Aracy levava a tiracolo o namorado Capita, que, segundo seus amigos, era muito discreto. Em 1962, de acordo com um documento do Ministério da Guerra, o Capita era o coronel-médico reformado Henrique Leopoldo Pfefferkor, falecido em 1990, dois anos após a morte da cantora.

Abelardo Barbosa, o Chacrinha, conheceu a cantora em 1941, quando era locutor na Rádio Tupi: “Moramos durante cinco anos no mesmo hotel, em São Paulo, e frequentamos o mesmo trem que nos levava para lá. Ela começou como jurada no meu programa”.


Aracy, numa de suas últimas entrevistas, ao dramaturgo Antônio Bivar, em 1986, explicou melhor: 
“Eu não tinha essa mania de ser jurada, não. Quem me botou foi o Paulinho de Carvalho. Eu fui fazer uma entrevista com a Hebe Camargo, e as besteiras que eu disse fizeram tanto sucesso, que eu tomei conta do programa. Então ele falou comigo: - Ora, Aracy, você não quer fazer um programa de calouro aqui na Record? Foi quando eu disse que não queria ser dona do programa, eu queria trabalhar como jurado. Então ele me botou naquele programa É Proibido Colocar Cartazes, com o Pagano Sobrinho”.



Em 1968, a pedido da própria Aracy, Caetano Veloso compôs uma música para ela, “A voz do morto”. Ela a gravou, num compacto-simples, para a Bienal do Samba de São Paulo daquele ano. O morto, claro, era Noel Rosa. Não se sabe por que, a música foi proibida pela censura, e ficou praticamente desconhecida.





Aracy morreu em 1988 e já não era mais a artista querida de amigos influentes e interessantes, apesar de ser jurada no show de calouros de Silvio Santos. Autêntica, ela acompanhou a evolução do tempo, sempre falando o que pensava. Foi o que a fez se manter viva como cantora na década seguinte. E, num certo sentido, pelo resto da vida. Afinal ela encarnava como jurada o papel da especialista no passado da música popular brasileira. O que pouca gente se lembra é que ela sempre foi uma mulher do futuro. 



A cantora dos versos mais tristes do samba e marchinhas surreais foi enterrada numa véspera de São João. Milhares de pessoas cantaram “Não me diga adeus” (de Luiz Soberano, J. C. da Silva e Paquito), seu grande sucesso de 1948.


Mas poucos, além do próprio Caetano Veloso, presente ao enterro, sabiam os últimos versos feitos para ela:


Eu canto com o mundo que roda,
mesmo do lado de fora,
mesmo que eu não cante agora,
ninguém me atende, ninguém me chama,
mas ninguém me entende, ninguém me engana,
eu sou valente, eu sou o samba,
a voz do morto, atrás do muro,
a vez de tudo, a paz do mundo,
na Glória.



Curiosidade



Artista com fama de "sapatão", Aracy viveu com o goleiro do Vasco da Gama, time de seu coração, de 1938 a 1942. Ela mesma atestou, num formulário da Previdência, aos 25 anos: “estado civil, casada; nome do esposo: José Fontana”.

Conhecido como Rey, o goleiro disse que, certo dia, em casa, começou a encerar o chão para se exercitar – Aracy estava fora – quando batem à porta. Ele atendeu e deparou com o incansável (e pouco confiável) David Nasser, que queria mostrar uma música para a cantora. O jogador, que foi também goleiro da seleção, disse que se o compositor encerasse toda a casa, Aracy gravaria a música. Nasser empunhou o escovão e, em duas horas, o chão brilhava. Quando chegou em casa, Aracy se surpreendeu com o belo trabalho. Rey contou a história, defendeu Nasser, e Aracy gravou “Com razão ou sem razão”.

O que se dizia é que Rey decidia o que Aracy gravava naqueles tempos. Ou pelo menos foi o que achou David Nasser.









terça-feira, 12 de novembro de 2019

JOÃO DO RIO




 Rua do Lavradio, 100 - Lapa  




Imagem relacionada
João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto, João do Rio (1881-1921), jornalista, cronista, contista e teatrólogo,  nasceu no Rio de Janeiro.



“Se a minha ação no jornalismo brasileiro pode ser notada 
é apenas porque desde o meu primeiro artigo assinado João do Rio 
eu nunca separei jornalismo de literatura, 
e procurei sempre fazer do jornalismo grande arte”.


Dândi, gordo, mulato, homossexual, ele dizia que seu sucesso incomodava: dava voz aos pobres e, ao mesmo tempo, circulava entre pessoas da elite, publicando crônicas que ironizavam esse meio. Dá para imaginar porque não agradava a todos.

Filho do educador Alfredo Coelho Barreto, fez os estudos elementares e de humanidades com o pai, ingressando na imprensa aos 16 anos, notabilizando-se como o primeiro jornalista brasileiro a ter o senso da reportagem moderna, dentre as quais destacam-se “As religiões no Rio” e o inquérito “O momento literário”, ambas reunidas em livros.

Nos diversos jornais em que trabalhou, granjeou enorme popularidade, sagrando-se como o maior jornalista de seu tempo. Usou vários pseudônimos, além de João do Rio, destacando-se: Claude, Caran d’Ache, Joe, José Antônio José. Como homem de letras, deixou obras de valor, sobretudo como cronista. Foi o criador da crônica social moderna. Como teatrólogo, a sua peça A bela madame Vargas teve grande êxito, representada pela primeira vez em 22 de outubro de 1912, no Teatro Municipal.

Resultado de imagem para A bela madame Vargas



Resultado de imagem para joão do rioFoi o escritor mais jovem a conquistar uma vaga na Academia Brasileira de Letras, aos 29 anos. Foi também o primeiro a usar o famoso fardão na cerimônia de posse. Segundo ocupante da cadeira 26, foi eleito em 7 de maio de 1910, na sucessão de Guimarães Passos, e recebido pelo acadêmico Coelho Neto em 12 de agosto de 1910.

Entre 1899 e 1919 publicou 25 livros, entre crônicas, romances e textos de teatro. Muitos esquecidos por mais de cem anos nas coleções de jornais antigos das bibliotecas e arquivos.



Cronista que retratou a vida carioca de seu tempo foi Nosso Vizinho Ilustre na Rua do Lavradio, 100, no Centro. E também em outros locais:


. na Rua dos Hospício (atual Rua Buenos Aires), onde nasceu 
. Rua Senador Dantas 
. Avenida Mem de Sá
. Avenida Meridional ( hoje Avenida Vieira Souto) onde construiu uma casa em terreno ganho em troca do texto da propaganda Praia Maravilhosa, publicada em O Paiz em 1917, quando Ipanema era um imenso areal.



O morro do Corcovado ao fundo à esquerda.

 



Na Revista da Semana, no encarte ilustrado publicado na morte de João do Rio, há uma foto da casa e o endereço que aí consta é Avenida Vieira Souto. O pesquisador João Carlos Rodrigues, em João do Rio: uma biografia, confirma que a casa que Paulo construíra localizava-se na Avenida Meridional, atual Vieira Souto. A informação n'A Pátria estaria errada ou trata-se de duas casas diferentes?

Ao falecer, era diretor do diário A Pátria, dedicado aos interesses da colônia portuguesa, que fundara em 1920. No seu último “Bilhete” (seção diária que mantinha naquele jornal), escreveu:


“Eu apostaria a minha vida 
(dois anos ainda, se houver muito cuidado, 
segundo o Rocha Vaz, o Austregésilo, 
o Guilherme Moura Costa e outras sumidades”. 


Seu prognóstico ainda era otimista, pois não lhe restavam mais que algumas horas quando escreveu o “Bilhete”. Falecido dentro de um táxi, em 23 de junho de 1921 -  às véspera de completar 40 anos - vítima de uma violenta surra. Seu corpo ficou na redação de A Pátria - diário fundado por ele e onde era diretor -  exposto à visitação pública. Sua morte parou o Rio de Janeiro. Há relatos de que 100 mil pessoas estiveram presentes em seu enterro, numa época em que a cidade tinha 900 mil habitantes. O comércio fechou e saiu até matéria no “Le Figaro”, jornal publicado na França.


Em 2015, a editora Carambaia lançou uma caixa com três volumes intitulada “Coleção João do Rio”, com três mil exemplares numerados à mão. Segundo a editora Graziella Beting, 

“João do Rio foi um dos primeiros jornalistas profissionais 
e seu grande feito foi ter contribuído 
para a modernização do jornalismo brasileiro. 
Passou a carreira inteira em jornais, 
não era alguém de outra área que escrevia em diários”.


Segundo ainda Graziella, João do Rio fez muito sucesso em vida, mas foi também um nome maldito. Foi uma figura bastante polêmica e teve muitos inimigos e detratores.




sexta-feira, 1 de novembro de 2019

LUIZ EDMUNDO




   Rua  Clóvis Bevilaqua, 160 - Tijuca   


Resultado de imagem para luis edmundo  pinturasHá 75 anos, em 1944 que o carioca Luiz Edmundo  - Luiz Edmundo de Melo Pereira da Costa -  (1878 - 1961) jornalista, poeta, cronista, teatrólogo e orador brasileiro se tornou o terceiro ocupante da cadeira 33 da Academia Brasileira de Letras - eleito em 18 de maio de 1944, e recebido pelo acadêmico Viriato Correia, em 2 de agosto de 1944 - sucedendo Fernando Magalhães.




Luiz Edmundo fez história e foi história do Rio, que amou, até morrer. Orgulhava-se de ser chamado "carioca dos cariocas". Companheiro considerado dos mais queridos e ele próprio documento de uma época, que encontrou em sua pena seu melhor testemunho. Jorge Amado o considerou "um figura quase lendária da cidade", que "escreveu sobre o que amava", disse dele Alceu Amoroso Lima

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Começou a trabalhar em 1899 n’A Imprensa, de Alcindo Guanabara, passando em seguida para o Correio da Manhã, que Edmundo Bittencourt acabava de fundar. Tornou-se um poeta muito popular. Poesias suas, como o soneto Olhos tristes, eram declamados nos salões da época.

OLHOS TRISTES

Olhos tristes, vós sois com dois sóis num poente,
Cansados de luzir, cansados de girar,
Olhos de quem andou na vida alegremente
Para depois sofrer, para depois chorar.

Andam neles agora a vagar lentamente,
Como as velas das naus sobre as águas do mar,
Todas as ilusões do vosso sonho ardente.
Olhos tristes, vós sois dois monges a rezar.

Ouço ao vos ver assim, tão cheios de humildade,
Marinheiros cantando a canção da saudade
Num coro de tristeza e de infinitos ais.

Olhos tristes, eu sei vossa história sombria
E sei quando chorais cheios de nostalgia,
O sonho que passou e que não torna mais.

(Poesias, 1907.)


Luiz Edmundo era um carioca apaixonado de sua cidade. Deixou a poesia de lado, abraçou a prosa e se dedicou à pesquisa de temas do Rio que viria a escrever. Voltou seu interesse para o século XVIII e imaginou um vasto painel do Rio de Janeiro no tempo dos Vice-reis. Foi a Portugal, pesquisou em arquivos, bibliotecas e conventos de província, depois à Espanha, reunindo material, inclusive iconográfico, para as obras. Assim iniciou crônicas de um passado, em O Rio de Janeiro no tempo dos Vice-reis e A corte de D. João no Rio de Janeiro, e também a da vida de sua cidade no tempo em que viveu, nos cinco volumes de suas memórias e em O Rio de Janeiro do meu tempo, sua obra-prima em 5 volumes.  Escreveu com traços realistas sem nunca perder o humor.

Nos seus textos vemos bem um painel da cidade, 
suas características e hábitos,  como em 

O RIO EM 1750

... a Rua do Rosário era a melhor das nossas ruas, mesmo com as suas horríveis rótulas coloniais forradas a urupema, horríveis no feitio e na higiene, a sua valeta mal sulcada ao centro na terra crua e onde, além das águas em decomposição, davam rendez-vous os animais mortos, o cisco e até as dejeções humanas, desafiando a mais benevolente das pituitárias...
...Estava ela “vestida de um tafetá cor-de-rosa” (o cor-de-rosa e o azul-rei foram as cores de grande predileção colonial que, por vezes, não se esquecia da cor preta). Trazia, porém, a cabeça nua, sem carapuça e... completamente rapada!
Não revela o amável viajante as razões de tão insólita toilette capilar, muito principalmente numa época em que saíam colchões de dentro dos toucados. O que parece mais certo é ter havido, por parte do holandês, homem inteligente e esperto, um grande gesto de defesa. Por causa das dúvidas, tendo ele que apresentar uma mulher moça e bonita, e, logo numa ocasião propícia a certas expansões e a um padre, achou de melhor aviso apresentá-la sem cabeleira... No que fez muito bem.
O que não padece dúvidas é que a dama da sobremesa devia ser criatura muito bonita, uma daquelas cariocas de tez morena e lábios cor-de-rosa que, quando, à noite, punham, por acaso, o olho brilhante e meigo à urupema das rótulas, a rua inteira, fora, se iluminava toda como que batida por um clarão de luar."
(Recordações do Rio antigo, 1950.)

Sua carreira jornalística se iniciou no jornal Cidade do Rio, que o contratou como repórter. José do Patrocínio, seu diretor, o incentivou a desenvolver sua capacidade como poeta e escritor. E ele o fez.
Luiz Edmundo se relacionou com os poetas, romancistas, artistas e intelectuais do inicio do século XX que se reuniam nos bares e cafés da moda para discutir as novas correntes e as novas idéias  em voga no período da belle époque.


Luiz Edmundo  - terceiro em pé da  esquerda para a direita - com a sua roda no 
famoso Café Papagaio, na rua Gonçalves Dias, em 1908

De boêmio e poeta, torna-se um homem de gabinete, na biblioteca de sua casa na Tijuca, bairro onde viveu durante 25 anos. Torna-se bibliófilo e pesquisador do passado, e era possível encontrar nas paredes de sua casa quadros dos mais famosos pintores brasileiros que com ele conviveram.

Luiz Edmundo nos contou dos vendedores da cidade 
antes do Rio Civiliza-se..


“Há o funileiro, que bate num prato de cobre com um badalosinho de chumbo, mas, não grita; o mascate vendedor de pannos e armarinho, sopesando caixas de folhas enormes, que contêm verdadeiros armazéns de mercadorias e vibrando uma espécie de matraca, que nada mais é que a medida de um metro, dobrado em dois pedaços que se ligam por duas dobradiças; os doceiros de caixa, chamarizes de crianças, esses, tocando uma gaita de bocca; ha o baleiro, ha a bahiana do cuscús, da pamonha, do amendoim e da cocada, a bahiana que se installa num vão de porta, com o seu lindo chalé africano, a sua trunfa, os seus collares e as suas anáguas postas em gomma, á espera da freguezia, fumando um cachimbo de nó de imbuia.”



...e com requinte de detalhes... A Rua do Ouvidor


de O Rio de Janeiro do Meu Tempo (1938 ),
considerada a melhor obra sobre a história da cidade





Resultado de imagem para luis edmundo  pinturasTambém foi um homem de teatro. Autor  e empresário com sucessos - peças, revistas e peças históricas -  com seu Teatro Pequeno, nos anos 1920, com parceiros como Luis Peixoto ( foto dos parceiros, ao lado)
Luiz Edmundo foi nosso vizinho ilustre na Tijuca, à rua Clóvis Bevilacqua, 160

Luiz Edmundo, ao centro, na biblioteca de sua casa, 
com os amigos  - da esquerda para a direita - 
Ernâni Fornari, Olegário Mariano, Manoelito D'Ornelas, 
Brício de Abreu e Álvaro Moreyra.
Foto de 1948


Foi o último boêmio da grande geração do início do século XX. Aos domingos reunia os boêmio da época em sua casa, para lembrar coisas com direito à feijoada de D. Santinha, sua esposa. E no salão da casa da Tijuca voltavam ao Rio os grandes  como Emílio de Menezes, Raul Pompéia, Olavo Bilac, Bastos Tigre, Coelho Neto, Lima Barreto e tantos outros através de recordações de fatos que fizeram a história boêmia da "Belle Époque" carioca e que Luiz Edmundo retratou em seus livros depois de as contar nas reuniões.


Luiz Edmundo em retrato de Eliseu Visconti

Curiosidade

Luiz Edmundo  descreveu a relação inicial do carioca do seu tempo com os jogos de azar ...

"Nunca foi, entretanto, o Rio de Janeiro, uma cidade de jogo, nem de jogadores. Nós jogamos, aqui, como se jogava muito naturalmente, em qualquer parte, sem obstinação e sem  delírio. 
Havia apostas em cavalos de corrida; havia esporte da pelota; pelos clubes fechados jogava-se raramente a roleta, o jaburu, ou, então a campista e o bacará; pelas famílias, sob a luz amiga dos bicos Auers, jogo era pretexto honesto de reunião ou de namoro, com um visporazinho a vintém, obrigado a suspiro, perna encostada, beliscão ou a bisca de sete e a burro em pé. 
As loterias eram vendidas sem o menor entusiasmo..."

até o surgimento do que ele caracteriza de 
"delírio chamado jogo do bicho!".


sábado, 12 de outubro de 2019

VITOR MEIRELLES


Nesse mês de outubro,
NOSSOS VIZINHOS ILUSTRES 
do bairro da Glória.




 Rua Benjamim Constant, 30 - Glória  




Victor Meirelles de Lima (1832-1903), pintor e professor do Brasil Império, teve um importante papel na formação de diversos pintores durante os 30 anos em que lecionou na Academia Imperial de Belas Artes. Algumas das mais conhecidas e consagradas obras de Victor Meirelles são cenas de batalhas.

Considerado um dos mais importantes representantes da pintura histórica brasileira do século XIX, Vitor Meirelles é o autor da “Primeira Missa do Brasil”, pertencente ao acervo do Museu Nacional de Belas Artes, em cuja pintura o artista utilizou a descrição da carta de Pero Vaz de Caminha. Foi sua primeira grande obra, executada entre os anos de 1858 e 1860, e lhe valeu fartos elogios no prestigioso Salão de Paris, de 1861.





 “Primeira Missa do Brasil”

O artista nasceu na Vila Nossa Senhora do Desterro, hoje Florianópolis, no dia 18 de agosto de 1832. Filho de pai português e mãe brasileira logo cedo manifestou interesse pelo desenho, passando seu tempo desenhando paisagens.

Estudou francês, filosofia e latim com o padre Joaquim Gomes d’Oliveira e, em 1845, iniciou seus estudos artísticos com o argentino Marciano Moreno. Estudou também com José Correia de Lima, aluno de Debret. Foram dois anos estudando desenho e três anos voltados para a “pintura histórica”.

Com apenas 14 anos, sua habilidade chamou a atenção do Conselheiro do Império Jerônimo Francisco Coelho que, em 1847, o levou para o Rio de Janeiro e o matriculou na Academia Imperial de Belas Artes. No ano seguinte, foi premiado com uma medalha de ouro.

Com o quadro São João Batista no Cárcere, ganhou, em 1852, uma viagem para a Europa onde viveu por oito anos, entre Itália e França.

Ficheiro:Victor Meirelles - São João Batista no cárcere, 1852.jpg

Em Roma, Meirelles estudou com Nicola Consoni, da Academia de São Lucas, seguindo, em seguida, para Veneza, onde se encantou com a técnica e o colorido dos pintores venezianos. Aprimorou sua técnica, copiando as obras de Ticiano, Tintoretto e Lorenzo Lotto.

Em 1857, com a renovação de sua bolsa de estudos, ele seguiu para Paris, onde permaneceu por mais três anos, tendo como mestres Léon Cogniet, André Gastaldi e Paul Delaroche, da Escola de Belas Artes, dedicando-se a estudar a obra de Horace Vernet, reconhecido por suas pinturas de batalhas.

Já consagrado, retornou ao Brasil, instalando seu ateliê no Convento de Santo Antônio, sendo condecorado por D. Pedro II, com o grau de Cavaleiro da Imperial Ordem de Cristo e da Imperial Ordem da Rosa. Em 1864, pintou os retratos de D. Pedro II e da Imperatriz Tereza Cristina, produzindo nos anos seguintes diversas obras por encomenda da família imperial, dentre elas o Juramento da Princesa Isabel.

Nesta época, a Igreja era uma importante patrocinadora das artes. Atuava como mecenas, sustentando artistas, que criavam obras belíssimas, sob encomenda de seus patrocinadores.

A obra conhecida como “Invocação a Nossa Senhora do Carmo”, encomendada por D. João Esberard, então arcebispo do Rio de Janeiro, para servir de fundo ao altar mor da catedral da cidade, foi a última obra do artista. O quadro foi retirado e guardado após a morte do arcebispo. Voltou a ficar em exposição em 1915, desta vez no prédio que abrigou o Liceu de Artes e Ofícios. Quando a instituição foi transferida para a sede da Praça Onze, o quadro foi doado ao Museu Nacional de Belas Artes, onde permanece até hoje.

Estudo para "Invocação à Virgem", Victor Meirelles de Lima, circa 1898, Rio de Janeiro/RJ, Óleo sobre cartão, 104,0 x 47,7 cm

Em 1868, instalado a bordo do navio Brasil, onde permaneceu por seis meses, Meirelles retratou a Guerra do Paraguai, direto da zona de conflito, pintando telas de grandes dimensões.

No final do século XIX, Meirelles dedicou-se à pintura de “panoramas”, fundando a empresa  Meirelles & Langerock, uma parceria que produziu, entre outros, o Panorama Circular do Rio de Janeiro e Entrada da Esquadra Legal no Porto do Rio de Janeiro.


Estudos para o Panorama






‘A descoberta da fotografia, importante auxiliar das artes e ciências, e que há mais de meio século preocupava o espírito de doutos tornando-se objeto de estudo de alguns sábios da Inglaterra e da França, só nesses últimos tempos atingiu ao grande aperfeiçoamento que apresenta e que bem pouco deixa a desejar’.


Foi com essas palavras que Victor Meirelles iniciou o capítulo “Fotografia”, que constou no Relatório sobre a II Exposição Nacional de 1866. O pintor deixou claro seu amplo conhecimento sobre o assunto, desde sua história até as peculiaridades dos processos fotográficos já desenvolvidos. Mostrou-se também entusiasmado com as aplicações da fotografia. Seu julgamento das obras expostas expressava rigor crítico e admiração. Usou em sua avaliação valores e parâmetros que eram, tradicionalmente, utilizados na crítica de pinturas como, por exemplo, os efeitos de luz e a nitidez das imagens. Com sua apreciação, Meirelles incentivou o diálogo entre a fotografia e a pintura.

A II Exposição Nacional foi realizada no Rio de Janeiro no palácio que abriga atualmente o Arquivo Nacional, de 19 de outubro a 16 de dezembro de 1866.


Victor MeirellesO artista faleceu no Rio de Janeiro no dia 22 de fevereiro de 1903 e foi nosso vizinho ilustre na Glória. O prédio, com arquitetura antiga, está situado na rua Benjamin Constant, 30.






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A casa onde viveu Vitor Meirelles no Rio de Janeiro, hoje em dia é sede do Centro de Movimento Debora Colker.  A arquitetura do prédio retrata  tipo de residência com a fachada alinhada com a calçada. A casa abrange toda a extremidade do terreno e é uma casa típica do fim do segundo reinado e início e do século 20.

O Museu Victor Meirelles fica na sua cidade natal, Florianópolis, à Rua Rafael Bandeira, nº 41, no sobrado onde o artista nasceu.


terça-feira, 1 de outubro de 2019

PEDRO NAVA


   Rua da Glória, 190  - Glória   

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Pedro Nava
- Pedro da Silva Nava - (1903 - 1984) , médico e memorialista, ilustrador nasceu , na cidade mineira de Juiz de Fora. No início dos anos 1920, mudou-se para Belo Horizonte. Ali, por volta de 1925, publicou poemas,em A Revista. Estudou Medicina, formando-se em 1927 pela Universidade de Minas Gerais e em 1929 chegou a ter ilustrações suas numa edição de Ma­cunaíma, do amigo Mário de An­drade, com quem se correspondeu durante muitos anos, e que identificava em seus versos uma “sun­tuosidade artística”.


Antes de estabelecer seu consultório no Rio de Janeiro, onde também era professor universitário, o doutor Nava clinicou em Juiz de Fora, Belo Horizonte e Monte Aprazível. Ao longo de cinqüenta anos de exercício profissional, assumiu um lugar de destaque na medicina brasileira ao se tornar o pioneiro de uma especialidade que ele trouxe para Brasil depois de um estágio na Europa, nos anos 1940: a reumatologia, da qual foi considerado o melhor de seu tempo.

Escreveu dezenas de artigos, ensaios e livros sobre temas médicos. Tomando a decisão de se aposentar - o abandono da carreira médica só ocorreu em função do início de uma deficiência auditiva -  fechou o consultório para se dedicar integralmente à paixão que o acompanhou desde a juventude: a literatura.

Em 1972, publica pela Editora Sabiá seu primeiro volume de memórias: Baú de ossos, em que narra a história de seus antepassados portugueses, italianos, cearenses e mineiros. Muito mais que isso, o livro não se limita a descrever episódios vividos pelo autor: revela o ambiente social, político e cultural do Brasil na primeira metade do século, levando o leitor a compreender, mais do que o homem, a época em que viveu.  Como ninguém brincava com as palavras.

“Batida, no Ceará, é uma rapadura especial, feita com melado sovado e arejado a colher de pau, até o ponto de açucarar. Com que também perde o gosto de rapadura. Vira noutra coisa, devido à versatilidade do açúcar, que é um em cada consistência, e que é ainda um a quente e outro a frio. Que é ainda ostensivo ou discreto, acessório ou predominante, substantivo ou adjetivo segundo se combine ao duro, ao mole, ao líquido, ao pulveru­lento, ao pastoso, ao espumoso, ao sol e ao gel. Compor com açúcar é como compor com a nota musical ou a cor, pois uma e outra variam e se desfiguram, configuram ou transfiguram segundo os outros sons e os outros tons que se lhe aproximam ou avizinham. É por isso que tudo que se faz com açúcar ou se mistura ao açúcar pede deste a forma especial e adequada – que favoreça a síntese do gosto.”

Sua estréia como memorialista, aos 69 anos, foi saudada pela crítica, e continha um detalhe curiosos: ele só escrevia a mão. Baú de ossos começa com um traço inconfundível da mineiridade:

“Eu sou um pobre homem 
do Caminho Novo das Minas 
dos Matos Gerais”

Seguiram-se quatro livros lançados pela  Editora José Olympio, a editora do velho amigo e vizinho: 

Balão cativo (1973), relembrando a infância em Juiz de Fora e a vida no bairro carioca do Rio Comprido; Chão de ferro (1976), em que o escritor conta sua adolescência; Beira-Mar (1978), que termina no momento em que Nava revela a aspiração de dedicar-se à medicina; e Galo-das-trevas (1981), que fala sobre sua clínica em Belo Horizonte, Caeté, Juiz de Fora e a Revolução de 1930. “Cera das Almas” (2006),  foi publicado postumamente e incompleto.

Sua obra memorialística foi considerada com um estilo sóbrio e elegante. Dono de um dos textos mais elaborados da prosa brasileira, Pedro Nava, tinha


"a minúcia descritiva e a arguta propriedade vocabular 
... recursos para identificar, através de cada pormenor, 
o sentido específico da coisa, a ‘alma do negócio". 
Carlos Drummond de Andrade



O talento de Pedro Nava para as artes plásticas é desconhecido do grande público, mas o escritor só não avançou nessa carreira porque não quis. Na juventude, fez ilustrações para livros, como  para "Macunaíma" de Mário de Andrade,  em 1928. Na composição de seus livros, o desenho era ferramenta poderosa. Nas páginas da direita de seus originais, Nava ilustrava suas memórias com mapas, detalhes das casas onde morou, caricaturas de personagens citados nos livros e revolvidos no baú de memórias do autor.

Pedro Nava era descrito pelos amigos como modesto, acessível, generoso, falante e bem-humorado. Deixou uma obra grandiosa, interrompida pela morte trágica, cuja motivação provavelmente nunca será conhecida.


Pedro Nava foi nosso vizinho ilustre não só na Glória onde passou a residir a partir de 1943  quando casou - Rua da Glória, 190 , 7° andar.

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mas também na Tijuca, sua primeira residência quando chega ao  Rio de Janeiro, em 1916,  e vai morar na Rua Haddock Lobo, 252, em companhia dos tios ( casa já demolida).



Pedro Nava teve uma companheira por muitos anos, Antonieta Penido Nava (D. Nieta)  com quem casou em 29 de junho de 1943. Segundo o próprio Nava, casou-se “tardiamente, aos 40 anos, porque era um boêmio que gostava de aproveitar a vida com liberdade”.

Nava e Nieta - foto de 1980

Uma morte trágica e inesperada interrompeu a trajetória do memorialista. Cometeu suicídio com um tiro na cabeça no dia 13 de maio de 1984. Embora a imprensa da época tenha tentado encobrir o fato, tudo indica que o ato seria decorrente da chantagem feita por um garoto de programa. Após receber uma misteriosa ligação telefônica, Pedro Nava comenta com a mulher "Nunca ouvi nada tão aviltante" . Foi para uma praça do bairro Glória, no Rio de Janeiro, e decretou o fim de sua vida. Aos 80 anos, com um tiro na cabeça, o escritor se matou.


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Pedro Nava ao lado do relógio da Glória

"Sim, tenho saudades 
Sim, acuso-te porque fizeste o não previsto 
nas leis da amizade e da natureza 
nem nos deixaste sequer o direito 
de indagar porque o fizeste, 
porque te foste."

Trecho da poesia, A Um Ausente,
de Carlos Drummond de Andrade, homenagem ao amigo Pedro Nava