terça-feira, 12 de novembro de 2019

JOÃO DO RIO




 Rua do Lavradio, 100 - Lapa  




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João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto, João do Rio (1881-1921), jornalista, cronista, contista e teatrólogo,  nasceu no Rio de Janeiro.



“Se a minha ação no jornalismo brasileiro pode ser notada 
é apenas porque desde o meu primeiro artigo assinado João do Rio 
eu nunca separei jornalismo de literatura, 
e procurei sempre fazer do jornalismo grande arte”.


Dândi, gordo, mulato, homossexual, ele dizia que seu sucesso incomodava: dava voz aos pobres e, ao mesmo tempo, circulava entre pessoas da elite, publicando crônicas que ironizavam esse meio. Dá para imaginar porque não agradava a todos.

Filho do educador Alfredo Coelho Barreto, fez os estudos elementares e de humanidades com o pai, ingressando na imprensa aos 16 anos, notabilizando-se como o primeiro jornalista brasileiro a ter o senso da reportagem moderna, dentre as quais destacam-se “As religiões no Rio” e o inquérito “O momento literário”, ambas reunidas em livros.

Nos diversos jornais em que trabalhou, granjeou enorme popularidade, sagrando-se como o maior jornalista de seu tempo. Usou vários pseudônimos, além de João do Rio, destacando-se: Claude, Caran d’Ache, Joe, José Antônio José. Como homem de letras, deixou obras de valor, sobretudo como cronista. Foi o criador da crônica social moderna. Como teatrólogo, a sua peça A bela madame Vargas teve grande êxito, representada pela primeira vez em 22 de outubro de 1912, no Teatro Municipal.

Resultado de imagem para A bela madame Vargas



Resultado de imagem para joão do rioFoi o escritor mais jovem a conquistar uma vaga na Academia Brasileira de Letras, aos 29 anos. Foi também o primeiro a usar o famoso fardão na cerimônia de posse. Segundo ocupante da cadeira 26, foi eleito em 7 de maio de 1910, na sucessão de Guimarães Passos, e recebido pelo acadêmico Coelho Neto em 12 de agosto de 1910.

Entre 1899 e 1919 publicou 25 livros, entre crônicas, romances e textos de teatro. Muitos esquecidos por mais de cem anos nas coleções de jornais antigos das bibliotecas e arquivos.



Cronista que retratou a vida carioca de seu tempo foi Nosso Vizinho Ilustre na Rua do Lavradio, 100, no Centro. E também em outros locais:


. na Rua dos Hospício (atual Rua Buenos Aires), onde nasceu 
. Rua Senador Dantas 
. Avenida Mem de Sá
. Avenida Meridional ( hoje Avenida Vieira Souto) onde construiu uma casa em terreno ganho em troca do texto da propaganda Praia Maravilhosa, publicada em O Paiz em 1917, quando Ipanema era um imenso areal.



O morro do Corcovado ao fundo à esquerda.

 



Na Revista da Semana, no encarte ilustrado publicado na morte de João do Rio, há uma foto da casa e o endereço que aí consta é Avenida Vieira Souto. O pesquisador João Carlos Rodrigues, em João do Rio: uma biografia, confirma que a casa que Paulo construíra localizava-se na Avenida Meridional, atual Vieira Souto. A informação n'A Pátria estaria errada ou trata-se de duas casas diferentes?

Ao falecer, era diretor do diário A Pátria, dedicado aos interesses da colônia portuguesa, que fundara em 1920. No seu último “Bilhete” (seção diária que mantinha naquele jornal), escreveu:


“Eu apostaria a minha vida 
(dois anos ainda, se houver muito cuidado, 
segundo o Rocha Vaz, o Austregésilo, 
o Guilherme Moura Costa e outras sumidades”. 


Seu prognóstico ainda era otimista, pois não lhe restavam mais que algumas horas quando escreveu o “Bilhete”. Falecido dentro de um táxi, em 23 de junho de 1921 -  às véspera de completar 40 anos - vítima de uma violenta surra. Seu corpo ficou na redação de A Pátria - diário fundado por ele e onde era diretor -  exposto à visitação pública. Sua morte parou o Rio de Janeiro. Há relatos de que 100 mil pessoas estiveram presentes em seu enterro, numa época em que a cidade tinha 900 mil habitantes. O comércio fechou e saiu até matéria no “Le Figaro”, jornal publicado na França.


Em 2015, a editora Carambaia lançou uma caixa com três volumes intitulada “Coleção João do Rio”, com três mil exemplares numerados à mão. Segundo a editora Graziella Beting, 

“João do Rio foi um dos primeiros jornalistas profissionais 
e seu grande feito foi ter contribuído 
para a modernização do jornalismo brasileiro. 
Passou a carreira inteira em jornais, 
não era alguém de outra área que escrevia em diários”.


Segundo ainda Graziella, João do Rio fez muito sucesso em vida, mas foi também um nome maldito. Foi uma figura bastante polêmica e teve muitos inimigos e detratores.




sexta-feira, 1 de novembro de 2019

LUIZ EDMUNDO




   Rua  Clóvis Bevilaqua, 160 - Tijuca   


Resultado de imagem para luis edmundo  pinturasHá 75 anos, em 1944 que o carioca Luiz Edmundo  - Luiz Edmundo de Melo Pereira da Costa -  (1878 - 1961) jornalista, poeta, cronista, teatrólogo e orador brasileiro se tornou o terceiro ocupante da cadeira 33 da Academia Brasileira de Letras - eleito em 18 de maio de 1944, e recebido pelo acadêmico Viriato Correia, em 2 de agosto de 1944 - sucedendo Fernando Magalhães.




Luiz Edmundo fez história e foi história do Rio, que amou, até morrer. Orgulhava-se de ser chamado "carioca dos cariocas". Companheiro considerado dos mais queridos e ele próprio documento de uma época, que encontrou em sua pena seu melhor testemunho. Jorge Amado o considerou "um figura quase lendária da cidade", que "escreveu sobre o que amava", disse dele Alceu Amoroso Lima

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Começou a trabalhar em 1899 n’A Imprensa, de Alcindo Guanabara, passando em seguida para o Correio da Manhã, que Edmundo Bittencourt acabava de fundar. Tornou-se um poeta muito popular. Poesias suas, como o soneto Olhos tristes, eram declamados nos salões da época.

OLHOS TRISTES

Olhos tristes, vós sois com dois sóis num poente,
Cansados de luzir, cansados de girar,
Olhos de quem andou na vida alegremente
Para depois sofrer, para depois chorar.

Andam neles agora a vagar lentamente,
Como as velas das naus sobre as águas do mar,
Todas as ilusões do vosso sonho ardente.
Olhos tristes, vós sois dois monges a rezar.

Ouço ao vos ver assim, tão cheios de humildade,
Marinheiros cantando a canção da saudade
Num coro de tristeza e de infinitos ais.

Olhos tristes, eu sei vossa história sombria
E sei quando chorais cheios de nostalgia,
O sonho que passou e que não torna mais.

(Poesias, 1907.)


Luiz Edmundo era um carioca apaixonado de sua cidade. Deixou a poesia de lado, abraçou a prosa e se dedicou à pesquisa de temas do Rio que viria a escrever. Voltou seu interesse para o século XVIII e imaginou um vasto painel do Rio de Janeiro no tempo dos Vice-reis. Foi a Portugal, pesquisou em arquivos, bibliotecas e conventos de província, depois à Espanha, reunindo material, inclusive iconográfico, para as obras. Assim iniciou crônicas de um passado, em O Rio de Janeiro no tempo dos Vice-reis e A corte de D. João no Rio de Janeiro, e também a da vida de sua cidade no tempo em que viveu, nos cinco volumes de suas memórias e em O Rio de Janeiro do meu tempo, sua obra-prima em 5 volumes.  Escreveu com traços realistas sem nunca perder o humor.

Nos seus textos vemos bem um painel da cidade, 
suas características e hábitos,  como em 

O RIO EM 1750

... a Rua do Rosário era a melhor das nossas ruas, mesmo com as suas horríveis rótulas coloniais forradas a urupema, horríveis no feitio e na higiene, a sua valeta mal sulcada ao centro na terra crua e onde, além das águas em decomposição, davam rendez-vous os animais mortos, o cisco e até as dejeções humanas, desafiando a mais benevolente das pituitárias...
...Estava ela “vestida de um tafetá cor-de-rosa” (o cor-de-rosa e o azul-rei foram as cores de grande predileção colonial que, por vezes, não se esquecia da cor preta). Trazia, porém, a cabeça nua, sem carapuça e... completamente rapada!
Não revela o amável viajante as razões de tão insólita toilette capilar, muito principalmente numa época em que saíam colchões de dentro dos toucados. O que parece mais certo é ter havido, por parte do holandês, homem inteligente e esperto, um grande gesto de defesa. Por causa das dúvidas, tendo ele que apresentar uma mulher moça e bonita, e, logo numa ocasião propícia a certas expansões e a um padre, achou de melhor aviso apresentá-la sem cabeleira... No que fez muito bem.
O que não padece dúvidas é que a dama da sobremesa devia ser criatura muito bonita, uma daquelas cariocas de tez morena e lábios cor-de-rosa que, quando, à noite, punham, por acaso, o olho brilhante e meigo à urupema das rótulas, a rua inteira, fora, se iluminava toda como que batida por um clarão de luar."
(Recordações do Rio antigo, 1950.)

Sua carreira jornalística se iniciou no jornal Cidade do Rio, que o contratou como repórter. José do Patrocínio, seu diretor, o incentivou a desenvolver sua capacidade como poeta e escritor. E ele o fez.
Luiz Edmundo se relacionou com os poetas, romancistas, artistas e intelectuais do inicio do século XX que se reuniam nos bares e cafés da moda para discutir as novas correntes e as novas idéias  em voga no período da belle époque.


Luiz Edmundo  - terceiro em pé da  esquerda para a direita - com a sua roda no 
famoso Café Papagaio, na rua Gonçalves Dias, em 1908

De boêmio e poeta, torna-se um homem de gabinete, na biblioteca de sua casa na Tijuca, bairro onde viveu durante 25 anos. Torna-se bibliófilo e pesquisador do passado, e era possível encontrar nas paredes de sua casa quadros dos mais famosos pintores brasileiros que com ele conviveram.

Luiz Edmundo nos contou dos vendedores da cidade 
antes do Rio Civiliza-se..


“Há o funileiro, que bate num prato de cobre com um badalosinho de chumbo, mas, não grita; o mascate vendedor de pannos e armarinho, sopesando caixas de folhas enormes, que contêm verdadeiros armazéns de mercadorias e vibrando uma espécie de matraca, que nada mais é que a medida de um metro, dobrado em dois pedaços que se ligam por duas dobradiças; os doceiros de caixa, chamarizes de crianças, esses, tocando uma gaita de bocca; ha o baleiro, ha a bahiana do cuscús, da pamonha, do amendoim e da cocada, a bahiana que se installa num vão de porta, com o seu lindo chalé africano, a sua trunfa, os seus collares e as suas anáguas postas em gomma, á espera da freguezia, fumando um cachimbo de nó de imbuia.”



...e com requinte de detalhes... A Rua do Ouvidor


de O Rio de Janeiro do Meu Tempo (1938 ),
considerada a melhor obra sobre a história da cidade





Resultado de imagem para luis edmundo  pinturasTambém foi um homem de teatro. Autor  e empresário com sucessos - peças, revistas e peças históricas -  com seu Teatro Pequeno, nos anos 1920, com parceiros como Luis Peixoto ( foto dos parceiros, ao lado)
Luiz Edmundo foi nosso vizinho ilustre na Tijuca, à rua Clóvis Bevilacqua, 160

Luiz Edmundo, ao centro, na biblioteca de sua casa, 
com os amigos  - da esquerda para a direita - 
Ernâni Fornari, Olegário Mariano, Manoelito D'Ornelas, 
Brício de Abreu e Álvaro Moreyra.
Foto de 1948


Foi o último boêmio da grande geração do início do século XX. Aos domingos reunia os boêmio da época em sua casa, para lembrar coisas com direito à feijoada de D. Santinha, sua esposa. E no salão da casa da Tijuca voltavam ao Rio os grandes  como Emílio de Menezes, Raul Pompéia, Olavo Bilac, Bastos Tigre, Coelho Neto, Lima Barreto e tantos outros através de recordações de fatos que fizeram a história boêmia da "Belle Époque" carioca e que Luiz Edmundo retratou em seus livros depois de as contar nas reuniões.


Luiz Edmundo em retrato de Eliseu Visconti

Curiosidade

Luiz Edmundo  descreveu a relação inicial do carioca do seu tempo com os jogos de azar ...

"Nunca foi, entretanto, o Rio de Janeiro, uma cidade de jogo, nem de jogadores. Nós jogamos, aqui, como se jogava muito naturalmente, em qualquer parte, sem obstinação e sem  delírio. 
Havia apostas em cavalos de corrida; havia esporte da pelota; pelos clubes fechados jogava-se raramente a roleta, o jaburu, ou, então a campista e o bacará; pelas famílias, sob a luz amiga dos bicos Auers, jogo era pretexto honesto de reunião ou de namoro, com um visporazinho a vintém, obrigado a suspiro, perna encostada, beliscão ou a bisca de sete e a burro em pé. 
As loterias eram vendidas sem o menor entusiasmo..."

até o surgimento do que ele caracteriza de 
"delírio chamado jogo do bicho!".