quarta-feira, 15 de maio de 2019

JOSÉ OLYMPIO


  . Rua  da Glória, 122 - Glória  

A trajetória desse grande editor brasileiro, José Olympio Pereira Filho, nascido em Batatais,  interior de São Paulo, o primeiro de 9 irmãos, foi diferenciada.
Segundo Rachel de Queiroz, que teve diversos livros editados por José Olympio (1902 - 1990),  ele agia não só como editor - o melhor de seu tempo - mas também como um pai ou irmão, que sabia dos problemas de seus editados e se tornava amigo íntimo.

De desempacotador de livros na Casa Garraux, em 1918, José Olympio levou cerca de uma década e meia para se tornar o editor mais influente do país. Excepcional talento, intuitivo e inteligente, de boa conversa, estava sempre disponível para ouvir os amigos e colaboradores. Para escolher os títulos que publicava, declarou certa vez que se pautava pelo instinto. Mas também dava muitos palpites na área comercial e de propaganda. Gostava de correr riscos. Em parte, o seu sucesso pode ser explicado muito por essa característica, aliada a uma grande capacidade de trabalho e de relacionamento pessoal.

Decidido a começar o próprio negócio, ele foi ajudado por alguns amigos, antes de abrir no Rio de Janeiro, em 1931, a sua primeira livraria, localizada na Rua da Quitanda. Três anos depois, quando iniciou de fato a atividade de editor, o estabelecimento passou a funcionar em endereço nobre, quase em frente à famosa Livraria Garnier, que fechou em seguida. Ousado e dotado da energia típica dos trinta anos, José Olympio sabia muito bem aonde queria chegar. E foi capaz de lances certeiros para alcançar seus objetivos.

O sucesso inicial veio com a obra de Humberto de Campos, logo seguida do êxito alcançado pelos "romancistas do Nordeste", com destaque para José Lins do Rego, Graciliano Ramos e Raquel de Queiroz. Em paralelo à ficção, o ano de 1936 marca o lançamento da coleção "Documentos Brasileiros", coordenada por Gilberto Freyre e que se tornou uma referência para a intelectualidade nacional. Reinvestindo os lucros, a editora obteve, durante a primeira década, a marca de quase 600 títulos produzidos, com mais de 2,2 milhões de exemplares vendidos, e a maioria expressiva do catálogo era formada por autores brasileiros.

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José Lins do Rego, Carlos Drummond de Andrade, Candido Portinari, 
José Olympio e Manuel Bandeira


José Olympio entrega exemplar de livro a Getúlio Vargas
  

A importância de José Olympio foi de tal ordem, que o crítico literário Antonio Candido  referiu-se a ele como um "herói cultural" da época.

José Olympio esteve no centro do sistema literário do seu tempo. 

Além de publicar a produção ficcional dos autores principais da editora, ele também solicitava traduções e encomendava textos, mantendo uma rede de colaboradores de alta qualidade e servindo de modelo para as outras empresas. Era também agressivo na promoção dos livros, ocupando-se das contracapas das publicações, mas também com bons investimentos em anúncios de revistas e jornais.

A partir de 1964, a editora foi aos poucos perdendo o fôlego. Apostou em lances de maior risco. Decidiu investir no ramo dos livros didáticos, à custa de altos investimentos, e encantou-se com a possibilidade de ter a Editora Sabiá incorporada ao seu catálogo. Mas, dessa vez, o jogo virou e ele teve de amargar prejuízos significativos. Sua capacidade de administrador certamente não se igualava à intuição editorial, e o resultado alcançado com essas duas operações não foi dos melhores. Deixou de ser a principal protagonista na veiculação das nossas letras, papel que veio a compartilhar com a Civilização Brasileira, sob a coordenação de Ênio Silveira, e em 1974, a editora foi incorporada pelo BNDES e, posteriormente, vendida e descaracterizada. Atualmente seu nome é usado por um dos selos editoriais associados ao Grupo Record.

A história da livraria na Rua do Ouvidor 110 é, na realidade, a descrição de uma época de ouro na vida intelectual do Rio de Janeiro dos anos 1930. muitos dos principais intelectuais brasileiros se encontravam no Rio de Janeiro e colaboravam com José Olympio, formando o círculo de boas conversas que se instalou na Livraria.


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"Uma vez por semana, reunia todo mundo para bater papo. Era como um chá da Academia Brasileira de Letras, só que informal."

José Olympio foi casado com Vera Pacheco Jordão durante 10 anos, teve 2 filhos: Vera Maria Teixeira e Geraldo Jordão Pereira,(também editor, já falecido, fundador da editora Sextante).

Foi nosso vizinho ilustre no bairro da Glória, 
em um apartamento alugado no 9° andar, na Rua da Glória, 122, 
esquina com a Rua Conde Lages, de frente para o Parque do Flamengo,
onde viveu 40 anos - até sua morte - após sua separação.




A Biblioteca Nacional recebeu mais de 6 mil itens que pertenciam ao acervo pessoal de José Olympio: livros e provas, originais, manuscritos e documentos de autores como Guimarães Rosa, José Lins do Rego, Cassiano Ricardo, Luis Fernando Verissimo e José Honório Rodrigues. Doado por seu filho, Geraldo Jordão Pereira, e pela família de Humberto Gregori, penúltimo proprietário da editora . Além dos livros, o acervo inclui 11 arquivos com 43 gavetas. Nas pilhas de papéis, estão preciosidades como provas com correções manuscritas de Manuel Bandeira. Há ainda capas, fotos de festas de lançamento e ilustrações usadas em publicações, além de grande quantidade de documentos, notícias antigas de jornais sobre a editora, dedicatórias feitas pelos escritores e também correspondência particular.

José Olympio o menino que só fez o primário, que dias antes de completar 29 anos abriu a Livraria José Olympio Editora, apostou na literatura nacional num momento em que o Brasil não era a bola da vez, e os temas relevantes vinham de Paris, deixou sua marca indelével na história editorial brasileira.

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quarta-feira, 1 de maio de 2019

JOSÉ DE ALENCAR



Hoje, 1º de maio de 2019
se vivo fosse, 
José de Alencar (1829-1877) 
estaria completando 190 anos.  



Resultado de imagem para jose de alencarJosé de Alencar foi nosso vizinho ilustre na Tijuca, na chácara Castelo, na Floresta da Tijuca. Um palacete inglês, branco e luxuoso, com jardins exuberantes e pontes de mármore erguido em meio à mata.

Principal escritor brasileiro da fase romântica, José de Alencar foi também dramaturgo, jornalista, advogado e político, sendo considerado um dos maiores representantes da corrente literária indianista. As principais obras indianistas em prosa de nossa literatura são os três romances de José de Alencar: “O Guarani”, “Iracema” e “Ubirajara”.

O escritor destacou-se no cenário cultural brasileiro com a publicação do romance "O Guarani", em forma de folhetim, no Diário do Rio de Janeiro, em 1857, que alcançou enorme sucesso e serviu de inspiração ao músico Carlos Gomes para compor a ópera “O Guarani”.

Além de indianista, José de Alencar escreveu também romances históricos, regionalistas e urbanos.
O primeiro romance histórico de nossa literatura foi “As Minas de Prata”. Escreveu ainda: “A Guerra dos Mascates”, narrativa da famosa revolução de 1710.
Entre os romances regionalistas destacam-se “O Sertanejo” e o “Gaúcho”, que reproduzem costumes típicos e folclóricos dessas regiões.
Os romances urbanos caracterizam a Corte e o meio social carioca do Segundo Reinado, como: “A Viuvinha”, “Senhora”, “Lucíola” e “Encarnação”.
Como poeta, José de Alencar escreveu “Os Filhos de Tupã”, poema indianista. E como teatrólogo destacam-se as comédias “Verso e Reverso”, “O Demônio Familiar” e “As Asas de um Anjo”.

José Martiniano de Alencar Júnior nasceu em Messejana, no Ceará, no dia 1 de maio de 1829, filho do senador do Império José Martiniano de Alencar. Aos nove anos mudou-se com a família para o Rio de Janeiro e, aos 14, foi para São Paulo, onde concluiu o secundário e ingressou na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco.

Impressionado com o sucesso do livro “A Moreninha” de Joaquim Manuel de Macedo, resolveu que seria escritor, interrompendo os estudos universitários e iniciando a leitura dos autores clássicos da época, como Alexandre Dumas, Balzac, Byron, entre outros.

Aos 18 anos, começou a escrever seu primeiro romance "Os Contrabandistas", que permaneceu inacabado. No ano seguinte, seguiu para Pernambuco, onde concluiu seu curso de direito na Faculdade de Direito de Olinda. De volta a São Paulo, levou o esboço de dois romances históricos: “Alma de Lázaro” e “O Ermitão da Glória”, que só seriam publicados no fim de sua vida.

Retornando ao Rio em 1851, José de Alencar exerceu a advocacia e, em 1854, ingressou no Correio Mercantil, na seção "Ao Correr da Pena", comentando os acontecimentos sociais, as estreias de peças teatrais, os novos livros e as questões políticas. No ano seguinte, assumiu as funções de gerente e redator–chefe do "Diário do Rio", onde publicou, em folhetim, seu primeiro romance "Cinco Minutos. No dia 1 de janeiro de 1857, começou a publicar o romance "O Guarani", em forma de folhetim, logo a seguir editado em livro.

Primeira edição do livro O Guarani   

Em 1858, José de Alencar abandonou o jornalismo e ingressou no Ministério da Justiça, recebendo o título de Conselheiro do Império, iniciando, ao mesmo tempo, sua carreira universitária como Professor de Direito Mercantil. Com a morte do pai, entrou para a política, pelo partido Conservador, elegendo-se deputado pelo Ceará, reeleito por quatro legislaturas. Defendia um governo forte e propunha uma abolição gradativa da escravatura. Embora D. Pedro II não simpatizasse com Alencar, não se opôs a sua escolha para o Ministério da Justiça do Império.

Caricatura de José de Alencar, quando ministro da Justiça. (Em Revista Ba-Ta-Clan, 29/8/1868)

Em 1870 foi eleito senador pelo Ceará; porém, com os conflitos com o Ministro da Marinha não foi o escolhido. Voltou para a Câmara, onde permaneceu até 1877, rompido com o partido Conservador.


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Assinatura de José de Alencar

Mesmo no auge da carreira política, José de Alencar não abandonou a literatura. Viu suas obras atacadas por jornalistas e críticos. Triste e desiludido, passou a publicar sob o pseudônimo de Sênio. Durante toda sua vida procurou trazer para os livros as tradições, a história, a vida rural e urbana do Brasil. Famoso, a ponto de ser escolhido por Machado de Assis para patrono da Cadeira nº. 23 da Academia Brasileira de Letras, José de Alencar morreu aos 48 anos, no dia 12 de dezembro de 1877, no Rio de Janeiro, vítima da tuberculose.

Curiosidades:

1. chácara Castelo foi propriedade do sogro de José de Alencar, Dr. Thomas Cochrane, médico britânico, um dos introdutores da Homeopatia no Brasil. Alencar foi casado com a filha mais velha do médico, Georgiana Augusta e tinha o dobro de sua idade. Ali residiu algum tempo e "escreveu alguns dos seus livros, entre os quais: Sonhos de Ouro e o Sertanejo. Consta ainda que aí ele recebeu a visita de Castro Alves, recém-chegado da Bahia, que lhe trouxe uma carta de recomendação" , segundo nos contou historiador Gastão Cruls no livro “Aparência do Rio de Janeiro”, publicado em 1949.

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 Hoje, o palacete é residência oficial do prefeito da cidade do Rio de Janeiro – no
Alto da Boa Vista, na Estrada da Gávea Pequena, s/n – pois, em 1916, juntamente com parte das terras, foi vendido à prefeitura do Distrito Federal por quarenta contos de réis. 

2. José de Alencar e sua prima distante e conterrânea Rachel de Queiroz foram tema do enredo de 2019 da Escola de Samba União da Ilha do Governador.