sábado, 12 de outubro de 2019

VITOR MEIRELLES


Nesse mês de outubro,
NOSSOS VIZINHOS ILUSTRES 
do bairro da Glória.




 Rua Benjamim Constant, 30 - Glória  




Victor Meirelles de Lima (1832-1903), pintor e professor do Brasil Império, teve um importante papel na formação de diversos pintores durante os 30 anos em que lecionou na Academia Imperial de Belas Artes. Algumas das mais conhecidas e consagradas obras de Victor Meirelles são cenas de batalhas.

Considerado um dos mais importantes representantes da pintura histórica brasileira do século XIX, Vitor Meirelles é o autor da “Primeira Missa do Brasil”, pertencente ao acervo do Museu Nacional de Belas Artes, em cuja pintura o artista utilizou a descrição da carta de Pero Vaz de Caminha. Foi sua primeira grande obra, executada entre os anos de 1858 e 1860, e lhe valeu fartos elogios no prestigioso Salão de Paris, de 1861.





 “Primeira Missa do Brasil”

O artista nasceu na Vila Nossa Senhora do Desterro, hoje Florianópolis, no dia 18 de agosto de 1832. Filho de pai português e mãe brasileira logo cedo manifestou interesse pelo desenho, passando seu tempo desenhando paisagens.

Estudou francês, filosofia e latim com o padre Joaquim Gomes d’Oliveira e, em 1845, iniciou seus estudos artísticos com o argentino Marciano Moreno. Estudou também com José Correia de Lima, aluno de Debret. Foram dois anos estudando desenho e três anos voltados para a “pintura histórica”.

Com apenas 14 anos, sua habilidade chamou a atenção do Conselheiro do Império Jerônimo Francisco Coelho que, em 1847, o levou para o Rio de Janeiro e o matriculou na Academia Imperial de Belas Artes. No ano seguinte, foi premiado com uma medalha de ouro.

Com o quadro São João Batista no Cárcere, ganhou, em 1852, uma viagem para a Europa onde viveu por oito anos, entre Itália e França.

Ficheiro:Victor Meirelles - São João Batista no cárcere, 1852.jpg

Em Roma, Meirelles estudou com Nicola Consoni, da Academia de São Lucas, seguindo, em seguida, para Veneza, onde se encantou com a técnica e o colorido dos pintores venezianos. Aprimorou sua técnica, copiando as obras de Ticiano, Tintoretto e Lorenzo Lotto.

Em 1857, com a renovação de sua bolsa de estudos, ele seguiu para Paris, onde permaneceu por mais três anos, tendo como mestres Léon Cogniet, André Gastaldi e Paul Delaroche, da Escola de Belas Artes, dedicando-se a estudar a obra de Horace Vernet, reconhecido por suas pinturas de batalhas.

Já consagrado, retornou ao Brasil, instalando seu ateliê no Convento de Santo Antônio, sendo condecorado por D. Pedro II, com o grau de Cavaleiro da Imperial Ordem de Cristo e da Imperial Ordem da Rosa. Em 1864, pintou os retratos de D. Pedro II e da Imperatriz Tereza Cristina, produzindo nos anos seguintes diversas obras por encomenda da família imperial, dentre elas o Juramento da Princesa Isabel.

Nesta época, a Igreja era uma importante patrocinadora das artes. Atuava como mecenas, sustentando artistas, que criavam obras belíssimas, sob encomenda de seus patrocinadores.

A obra conhecida como “Invocação a Nossa Senhora do Carmo”, encomendada por D. João Esberard, então arcebispo do Rio de Janeiro, para servir de fundo ao altar mor da catedral da cidade, foi a última obra do artista. O quadro foi retirado e guardado após a morte do arcebispo. Voltou a ficar em exposição em 1915, desta vez no prédio que abrigou o Liceu de Artes e Ofícios. Quando a instituição foi transferida para a sede da Praça Onze, o quadro foi doado ao Museu Nacional de Belas Artes, onde permanece até hoje.

Estudo para "Invocação à Virgem", Victor Meirelles de Lima, circa 1898, Rio de Janeiro/RJ, Óleo sobre cartão, 104,0 x 47,7 cm

Em 1868, instalado a bordo do navio Brasil, onde permaneceu por seis meses, Meirelles retratou a Guerra do Paraguai, direto da zona de conflito, pintando telas de grandes dimensões.

No final do século XIX, Meirelles dedicou-se à pintura de “panoramas”, fundando a empresa  Meirelles & Langerock, uma parceria que produziu, entre outros, o Panorama Circular do Rio de Janeiro e Entrada da Esquadra Legal no Porto do Rio de Janeiro.


Estudos para o Panorama






‘A descoberta da fotografia, importante auxiliar das artes e ciências, e que há mais de meio século preocupava o espírito de doutos tornando-se objeto de estudo de alguns sábios da Inglaterra e da França, só nesses últimos tempos atingiu ao grande aperfeiçoamento que apresenta e que bem pouco deixa a desejar’.


Foi com essas palavras que Victor Meirelles iniciou o capítulo “Fotografia”, que constou no Relatório sobre a II Exposição Nacional de 1866. O pintor deixou claro seu amplo conhecimento sobre o assunto, desde sua história até as peculiaridades dos processos fotográficos já desenvolvidos. Mostrou-se também entusiasmado com as aplicações da fotografia. Seu julgamento das obras expostas expressava rigor crítico e admiração. Usou em sua avaliação valores e parâmetros que eram, tradicionalmente, utilizados na crítica de pinturas como, por exemplo, os efeitos de luz e a nitidez das imagens. Com sua apreciação, Meirelles incentivou o diálogo entre a fotografia e a pintura.

A II Exposição Nacional foi realizada no Rio de Janeiro no palácio que abriga atualmente o Arquivo Nacional, de 19 de outubro a 16 de dezembro de 1866.


Victor MeirellesO artista faleceu no Rio de Janeiro no dia 22 de fevereiro de 1903 e foi nosso vizinho ilustre na Glória. O prédio, com arquitetura antiga, está situado na rua Benjamin Constant, 30.






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A casa onde viveu Vitor Meirelles no Rio de Janeiro, hoje em dia é sede do Centro de Movimento Debora Colker.  A arquitetura do prédio retrata  tipo de residência com a fachada alinhada com a calçada. A casa abrange toda a extremidade do terreno e é uma casa típica do fim do segundo reinado e início e do século 20.

O Museu Victor Meirelles fica na sua cidade natal, Florianópolis, à Rua Rafael Bandeira, nº 41, no sobrado onde o artista nasceu.


terça-feira, 1 de outubro de 2019

PEDRO NAVA


   Rua da Glória, 190  - Glória   

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Pedro Nava
- Pedro da Silva Nava - (1903 - 1984) , médico e memorialista, ilustrador nasceu , na cidade mineira de Juiz de Fora. No início dos anos 1920, mudou-se para Belo Horizonte. Ali, por volta de 1925, publicou poemas,em A Revista. Estudou Medicina, formando-se em 1927 pela Universidade de Minas Gerais e em 1929 chegou a ter ilustrações suas numa edição de Ma­cunaíma, do amigo Mário de An­drade, com quem se correspondeu durante muitos anos, e que identificava em seus versos uma “sun­tuosidade artística”.


Antes de estabelecer seu consultório no Rio de Janeiro, onde também era professor universitário, o doutor Nava clinicou em Juiz de Fora, Belo Horizonte e Monte Aprazível. Ao longo de cinqüenta anos de exercício profissional, assumiu um lugar de destaque na medicina brasileira ao se tornar o pioneiro de uma especialidade que ele trouxe para Brasil depois de um estágio na Europa, nos anos 1940: a reumatologia, da qual foi considerado o melhor de seu tempo.

Escreveu dezenas de artigos, ensaios e livros sobre temas médicos. Tomando a decisão de se aposentar - o abandono da carreira médica só ocorreu em função do início de uma deficiência auditiva -  fechou o consultório para se dedicar integralmente à paixão que o acompanhou desde a juventude: a literatura.

Em 1972, publica pela Editora Sabiá seu primeiro volume de memórias: Baú de ossos, em que narra a história de seus antepassados portugueses, italianos, cearenses e mineiros. Muito mais que isso, o livro não se limita a descrever episódios vividos pelo autor: revela o ambiente social, político e cultural do Brasil na primeira metade do século, levando o leitor a compreender, mais do que o homem, a época em que viveu.  Como ninguém brincava com as palavras.

“Batida, no Ceará, é uma rapadura especial, feita com melado sovado e arejado a colher de pau, até o ponto de açucarar. Com que também perde o gosto de rapadura. Vira noutra coisa, devido à versatilidade do açúcar, que é um em cada consistência, e que é ainda um a quente e outro a frio. Que é ainda ostensivo ou discreto, acessório ou predominante, substantivo ou adjetivo segundo se combine ao duro, ao mole, ao líquido, ao pulveru­lento, ao pastoso, ao espumoso, ao sol e ao gel. Compor com açúcar é como compor com a nota musical ou a cor, pois uma e outra variam e se desfiguram, configuram ou transfiguram segundo os outros sons e os outros tons que se lhe aproximam ou avizinham. É por isso que tudo que se faz com açúcar ou se mistura ao açúcar pede deste a forma especial e adequada – que favoreça a síntese do gosto.”

Sua estréia como memorialista, aos 69 anos, foi saudada pela crítica, e continha um detalhe curiosos: ele só escrevia a mão. Baú de ossos começa com um traço inconfundível da mineiridade:

“Eu sou um pobre homem 
do Caminho Novo das Minas 
dos Matos Gerais”

Seguiram-se quatro livros lançados pela  Editora José Olympio, a editora do velho amigo e vizinho: 

Balão cativo (1973), relembrando a infância em Juiz de Fora e a vida no bairro carioca do Rio Comprido; Chão de ferro (1976), em que o escritor conta sua adolescência; Beira-Mar (1978), que termina no momento em que Nava revela a aspiração de dedicar-se à medicina; e Galo-das-trevas (1981), que fala sobre sua clínica em Belo Horizonte, Caeté, Juiz de Fora e a Revolução de 1930. “Cera das Almas” (2006),  foi publicado postumamente e incompleto.

Sua obra memorialística foi considerada com um estilo sóbrio e elegante. Dono de um dos textos mais elaborados da prosa brasileira, Pedro Nava, tinha


"a minúcia descritiva e a arguta propriedade vocabular 
... recursos para identificar, através de cada pormenor, 
o sentido específico da coisa, a ‘alma do negócio". 
Carlos Drummond de Andrade



O talento de Pedro Nava para as artes plásticas é desconhecido do grande público, mas o escritor só não avançou nessa carreira porque não quis. Na juventude, fez ilustrações para livros, como  para "Macunaíma" de Mário de Andrade,  em 1928. Na composição de seus livros, o desenho era ferramenta poderosa. Nas páginas da direita de seus originais, Nava ilustrava suas memórias com mapas, detalhes das casas onde morou, caricaturas de personagens citados nos livros e revolvidos no baú de memórias do autor.

Pedro Nava era descrito pelos amigos como modesto, acessível, generoso, falante e bem-humorado. Deixou uma obra grandiosa, interrompida pela morte trágica, cuja motivação provavelmente nunca será conhecida.


Pedro Nava foi nosso vizinho ilustre não só na Glória onde passou a residir a partir de 1943  quando casou - Rua da Glória, 190 , 7° andar.

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mas também na Tijuca, sua primeira residência quando chega ao  Rio de Janeiro, em 1916,  e vai morar na Rua Haddock Lobo, 252, em companhia dos tios ( casa já demolida).



Pedro Nava teve uma companheira por muitos anos, Antonieta Penido Nava (D. Nieta)  com quem casou em 29 de junho de 1943. Segundo o próprio Nava, casou-se “tardiamente, aos 40 anos, porque era um boêmio que gostava de aproveitar a vida com liberdade”.

Nava e Nieta - foto de 1980

Uma morte trágica e inesperada interrompeu a trajetória do memorialista. Cometeu suicídio com um tiro na cabeça no dia 13 de maio de 1984. Embora a imprensa da época tenha tentado encobrir o fato, tudo indica que o ato seria decorrente da chantagem feita por um garoto de programa. Após receber uma misteriosa ligação telefônica, Pedro Nava comenta com a mulher "Nunca ouvi nada tão aviltante" . Foi para uma praça do bairro Glória, no Rio de Janeiro, e decretou o fim de sua vida. Aos 80 anos, com um tiro na cabeça, o escritor se matou.


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Pedro Nava ao lado do relógio da Glória

"Sim, tenho saudades 
Sim, acuso-te porque fizeste o não previsto 
nas leis da amizade e da natureza 
nem nos deixaste sequer o direito 
de indagar porque o fizeste, 
porque te foste."

Trecho da poesia, A Um Ausente,
de Carlos Drummond de Andrade, homenagem ao amigo Pedro Nava