segunda-feira, 15 de julho de 2019

IRMÃOS BERNARDELLI



Continuando a comemoração dos 110 anos 
do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, 
destacamos dois outros nomes 
ligados à sua história.



Os irmãos Bernardelli,  Rodolpho e Henrique, foram grandes artistas do século XIX, que  influenciaram dezenas de artistas do século XX. Vieram para o Brasil  com seus pais, para serem preceptores das princesas Isabel e Leopoldina, a convite do imperador d.Pedro II.





Rodolpho Bernardelli  -  José Maria Oscar Rodolpho Bernardelli y Thierry -  (1852-1931)

Nasceu em Guadalajara e faleceu no Rio de Janeiro.
Foi escultor, professor e naturalizou-se brasileiro.
Um dos maiores escultores brasileiros, deixou uma extensa produção, entre obras tumulares, monumentos comemorativos e bustos de personalidades. Considerado um dos reformadores do ensino artístico no Brasil, Rodolfo Bernardelli alcança uma posição tão destacada no círculo de artes, o que o leva a assumir o cargo de primeiro diretor da recém-instituída Escola Nacional de Belas Artes. Por lá chega vitorioso, contava com a simpatia da Família Imperial e já era um artista reconhecido. Como  maior nome da escultura nacional passa a receber uma série de encomendas, incluindo alguns monumentos de grande porte.Fica na escola entre 1890 e 1915, e nesse  período propõe, inclusive, a edificação da nova sede na avenida Rio Branco.

Figura miúda, rosto avermelhado contornado por uma barbicha bem desenhada, personalidade calma, comedida, homem que nunca levantava a voz mas que impunha respeito, severo e ao mesmo tempo dotado de fina ironia, atencioso e íntegro, dono de grande magnetismo pessoal. Foi amado, respeitado e até mesmo reverenciado por uma grande legião de amigos, homens como Benjamim Constant, Quintino Bocayuva, Olavo Bilac, Machado de Assis, Aluízio e Arthur de Azevedo, Raul Pompéia, Leopoldo Miguez, Angelo Agostini, Pereira Passos, Paulo de Frontin.

Mas a opinião não era unânime. Outros o acusavam de ser extremamente vaidoso, sempre se utilizando de subterfúgios para aparecer. Era visto ainda como autoritário, prepotente e sobretudo ingrato. Faziam parte desse grupo Vitor Meirelles e Antonio Parreiras, dentre outros.

No atelier da rua da Relação, um galpão construído num terreno que havia recebido do governo, Rodolpho Bernardelli vivia e trabalhava. Ali executou grande parte de sua obra. Também recebia os amigos, uma roda formada por literatos, jornalistas, políticos ocupando altos postos, artistas, nomes que formavam a sociedade culta da época e muitos dos quais foram retratados pelo artista, como se pode ver pela coleção so Museu Nacional de Belas Artes.

Um movimento de professores e alunos o afastou da direção da Escola Nacional de Belas Artes em 1915. No ano seguinte pediria a aposentadoria e só voltaria a colocar os pés na Escola, já bem idoso, para receber uma homenagem em forma de busto, feito por seu aluno Correia Lima. Nesse espaço de tempo ele viveria praticamente afastado do mundo, em seu novo atelier na praia de Copacabana, dedicado unicamente à escultura e ao convívio dos amigos mais fiéis. Morreria em abril 1931, mas não antes de dar um passeio de bonde para se despedir de seus monumentos

Da obra de Rodolpho Bernardelli vale destacar inúmeros bustos de personalidades públicas, obras tumulares e diversos monumentos comemorativos, realizados principalmente para a cidade do Rio de Janeiro, como os dedicados ao General Osório, 1894, ao Duque de Caxias, 1899, a José de Alencar, 1897 e o grupo escultórico Descobrimento do Brasil, 1900. 

O artista executou ainda as estátuas que ornamentam o prédio do Theatro Municipal, em 1905.


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Henrique Bernardelli (1858 - 1936) nasceu em Valparaiso no Chile, e também naturalizou-se brasileiro.

Foi  pintor, desenhista, gravador, professor. Matriculado na Academia Imperial de Belas Artes, juntamente com o irmão, foi aluno , dentre outros de  Victor Meirelles. De 1878 a 1886 fica na Europa aprimorando estudos e na volta ao Brasilvrealiza no Rio de Janeiro uma exposição individual que causa interesse e polêmica no meio local. São apresentadas, entre outras obras, Tarantela, Maternidade, Messalina, Modelo em Repouso e Ao Meio Dia.

Lecionou na Escola Nacional de Belas Artes de 1891 a 1905, e depois, juntamente com o irmão, passou a lecionar em um ateliê particular, na Rua do Ouvidor, no Rio de Janeiro.

Henrique Bernardelli foi o primeiro pintor brasileiro a extrair todos os fundamentos de sua experiência artística dos processos, hábitos técnicos e cores da pintura italiana praticada por muitos artistas do século XIX. O que havia de mais particular na sua obra era o aspecto de uma pintura nova para o que aqui se conhecia. A diferença de um academismo francês, uma nova visão para a pintura, que muito havia de popular, naturalidade das coisas, dos fatos.

Temperamento irrequieto, nervoso. Tinha forte peito, músculos desenvolvidos e reforçados pelo exercício das caminhadas ao ar livre, pelo alto das montanhas, o que refletia em sua obra, que era vigorosa, original, cheia de calor, cheia de ousadia.

Na década de 1890 fez os painéis O Domínio do Homem sobre as Forças da Natureza e A Luta pela Liberdade, para a Biblioteca Nacional , ambos no Rio de Janeiro. Utilizou a técnica de afresco na execução de 22 medalhões que retratam personalidades e artistas ligados ao ensino das artes no Brasil. Essas obras adornam a fachada do Museu Nacional de Belas Artes.

Em 1986, para marcar os 50 anos da sua morte, os Correios emitiram selo reproduzindo sua obra, Maternidade.

Em sua vasta obra merecem, também, destaque importantes trabalhos decorativos, pintura de painéis, no interior do Theatro Municipal.


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Apoteose à Poesia, 
decoração de Henrique Bernardelli 
para cúpula anexa ao foyer do Theatro Municipal, 1906.


Os irmãos Bernardelli foram nossos vizinhos ilustres em Copacabana.

Duas imagens da casa Bernardelli em 1910:


1. Óleo sobre tela de José Pinelo Llull


 2. Foto do palacete toscano construído pelo arquiteto Sylvio Rebechi, em 1908


A casa Bernardelli, ficava na esquina da Rua Belford Roxo com a Av. Atlântica, onde hoje é a Praça do Lido.
A casa, uma das pioneiras no bairro, construída antes mesmo da Av. Atlântica ter suas obras iniciadas e da Av. N.S. de Copacabana, neste trecho, ainda ser um vasto areal, era notada de longe nas fotos até o final dos anos 20, quando com o aumento das construções na Av. Atlântica e o fim da pendenga judicial que bloqueava a ocupação de grande parte do Posto 2, começou a ser escondida e passar desapercebida.
Com a morte de Rodolpho Bernardelli em 1931 e de Henrique em 1936, era dada como certa a demolição da casa, que ficou fechada por muitos anos, gerando na comunidade de Copacabana um pouco comum, naquela época, desejo preservacionista da residência.
 O tema foi debatido pela Imprensa, inclusive na revista Beira-Mar. Os moradores queriam preservar a casa, não só em lembrança dos dois brilhantes artistas, como também pelo significado que a casa tinha em relação à ocupação do bairro. Muitos queriam que nela fosse instalada uma escola.
Mas os apelos foram em vão e, no final dos anos 40, a casa, em relativo mau estado, foi ao chão pelas mãos da Construtora Corcovado, a que mais destruiu o bairro no período.
O semanário Beira-Mar através de Théo-Filho - um dos escritores mais lidos no Brasil nos anos 20 - deu a manchete: 

"Consumou-se, afinal, o atentado!"

"Foi iniciada a demolição da casa dos 
irmãos Bernardelli" (Rodolpho e Henrique)...
o palacete toscano da Avenida Atlântica, ... 
construído pelo arquiteto Sylvio Rebechi, em 1908... 

Os antigos palacetes de Copacabana
- como este onde moraram o escultor e o pintor - 
começavam a desaparecer para a construção 
dos prédios de apartamentos 
em concreto armado, os arranha-céus".

Na Praça do Lido hoje existe uma escultura dos irmãos, inaugurada no centenário de Rodolfo.




segunda-feira, 1 de julho de 2019

ELISEU VISCONTI


Neste mês de julho, 
o Theatro Municipal do Rio de Janeiro 
completa 110 anos. 
Por isso vamos destacar personalidades 
ligadas à sua história.


  . Ladeira dos Tabajaras, 155 - Copacabana  


“A arte não pode parar. Modifica-se permanentemente. Agrada agora o que antes era detestado. Isto é evolução e não é possível fugir dos seus efeitos. O homem não para. Vai sempre adiante. Os futuristas, os cubistas, são expressões respeitáveis, artistas que tateiam, procurando alguma coisa que ainda não alcançaram. Eles agitam, sacodem, renovam. São dignos, por conseguinte, de toda admiração”.





Nascido na Itália, Eliseu d'AngeloVisconti (1866-1944) veio para o Brasil aos 7 anos e se tornou um dos mais importantes pintores impressionistas de nosso país. Sua vontade de ser brasileiro era tamanha que, em sua biografia, Fernando Barata escreve que ele teria imigrado para o Brasil com 1 ano de idade. O erro de Frederico Barata, mais amigo que biógrafo, com certeza foi proposital, pois Visconti se entristecia sempre que tinha contestada sua brasilidade.


“Há quase setenta anos que habito o Rio,
tenho o direto a ser carioca; 
local onde o meu espírito se formou 
e abriu-se à sensação estética 
que até hoje me prende à vida 

Sua vinda para o Brasil deu-se por influência de D. Francisca de Souza Monteiro de Barros, a baronesa de Guararema, aluna de pintura de Victor Meirelles e que se tornaria sua grande incentivadora e protetora. Como seus irmãos mais velhos, passou a viver na Fazenda São Luiz, em São José de Além Paraíba, de propriedade de Luiz de Souza Breves, o barão de Guararema.

Se a intenção do barão e da baronesa ao trazer os irmãos Visconti para o Brasil era ter mão de obra para a lavoura de café, a afeição da baronesa pelos irmãos frustraria esses planos e logo os afastaria da fazenda. Essa afeição, declarada em cartas da baronesa, ajudou Eliseu a superar a ausência dos pais, que nunca vieram ao Brasil e a iniciar sua brilhante carreira artística. 

Ainda jovem, Eliseu mudou-se para o Rio de Janeiro e se instalou no bairro do Andaraí, iniciando seus estudos de música com o compositor Vincenzo Cernicchiaro, no Club Mozart, na Rua da Constituição. Mas as lições de solfejo com Henrique Alves de Mesquita afastaram Eliseu da música. E o talento pelas artes plásticas prevaleceu, quando a baronesa viu um de seus desenhos, representando a figura de uma camponesa romana.

A conselho da baronesa, Visconti abandonou as aulas de música e iniciou os estudos de desenho e pintura no Liceu de Artes e Ofícios. Naqueles idos de 1882, a baronesa era a proprietária do antigo solar da marquesa dos Santos, em São Cristóvão, hoje Museu do Primeiro Reinado. Lá conservava precioso acervo de arte, com certeza mais um incentivo ao jovem Visconti. 

Sem abandonar o Liceu, ingressou na Imperial Academia de Belas Artes do Rio de Janeiro, em 1885, estimulado por D. Pedro II. O imperador, um ano antes, em uma de suas visitas ao Liceu, impressionado com uma escultura de Visconti, aconselhou o jovem Eliseu a continuar seus estudos na Academia: 

“Por que o senhor não entra na Academia? 
O senhor deve entrar o quanto antes na Academia”

Disse-lhe D. Pedro II ao ser apresentado a Visconti. O imperador gostava de pessoalmente distribuir os prêmios aos alunos da Instituição.

Em 1886, ao receber de D. Pedro II o prêmio da Medalha de Prata em Ornatos, ouviu do imperador:

  “Vejo que o senhor progride. Isto me causa grande satisfação. 
Quando entra para a Academia”?



carta de agradecimento de Eliseu Visconti para Pereira Passos, 
em 3 de outubro de 1905, 
pelo convite para realizar obras de arte no Theatro Municipal


Emocionado por ter sido reconhecido pelo imperador, Visconti gagueja e não consegue agradecer a D. Pedro, nem lhe comunicar que já ingressara na Academia. Anos depois, o agradecimento veio em forma de homenagem, quando Visconti, já em plena República e mesmo sofrendo críticas, inclui a figura do imperador no pano de boca do Theatro Municipal do Rio de Janeiro.

Inspirado na Ópera de Paris, a célebre Opera Garnier, e, a convite do prefeito Pereira Passos, realizou a que é considerada sua principal obra: a pintura da boca de cena e do foyer do Municipal, que está completando 110 anos neste mês. O pintor também faria 153 anos no dia 30 de julho deste ano. 


Pintando a boca de cena

A obra da boca de cena pronta


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Visconti no atelier da Rue Didot, com os painéis do Foyer

Imagem relacionada
 Painel central do Foyer

A foto abaixo, guardada com outros negativos de vidro, pela família, 

por cerca de 100 anos, revela uma foto inédita de Visconti, de 1915, 
sentado num andaime em seu atelier em Paris, diante da pintura do foyer.


VISCONTI NO ANDAIME COM O PAINEL CENTRAL DO FOYER - c.1915

Eliseu Visconti foi nosso vizinho ilustre em Copacabana. 

Ao retornar de Paris, onde frequentou a Academia Francesa de Belas Artes, gozando uma bolsa de estudos concedida por D. Pedro II, Visconti se instalou em uma chácara na Ladeira do Barroso, atual Ladeira dos Tabajaras, em Copacabana. 

Hoje, no local,  Ladeira dos Tabajaras, 155 -  esquina com a Travessa Santa Margarida encontra-se o Edifício Eliseu Visconti.





“Se o fim da arte é despertar a emoção alheia, 
que importam os meios de que o artista lançou 
mão para conseguir essa finalidade”! 


Visconti faleceu no Rio de Janeiro, no dia 15 de outubro de 1944, aos 78 anos de idade.

Uma curiosidade:

Em 2016, ano dos 150 anos de nascimento de Eliseu Visconti, a equipe do Theatro Municipal foi surpreendida com uma feliz descoberta: uma tela com dois metros de diâmetro, sem título atribuído e localizada no teto da antessala do Camarote do Governador.
Após intensas pesquisas na documentação do Theatro e, ao serem examinadas as correspondências de 1933 do então diretor do Municipal, Roberto Doyle Maia, veio a grande constatação: a autoria da obra é de Eliseu D'Angelo Visconti.