segunda-feira, 1 de julho de 2019

ELISEU VISCONTI


Neste mês de julho, 
o Theatro Municipal do Rio de Janeiro 
completa 110 anos. 
Por isso vamos destacar personalidades 
ligadas à sua história.


  . Ladeira dos Tabajaras, 155 - Copacabana  


“A arte não pode parar. Modifica-se permanentemente. Agrada agora o que antes era detestado. Isto é evolução e não é possível fugir dos seus efeitos. O homem não para. Vai sempre adiante. Os futuristas, os cubistas, são expressões respeitáveis, artistas que tateiam, procurando alguma coisa que ainda não alcançaram. Eles agitam, sacodem, renovam. São dignos, por conseguinte, de toda admiração”.





Nascido na Itália, Eliseu d'AngeloVisconti (1866-1944) veio para o Brasil aos 7 anos e se tornou um dos mais importantes pintores impressionistas de nosso país. Sua vontade de ser brasileiro era tamanha que, em sua biografia, Fernando Barata escreve que ele teria imigrado para o Brasil com 1 ano de idade. O erro de Frederico Barata, mais amigo que biógrafo, com certeza foi proposital, pois Visconti se entristecia sempre que tinha contestada sua brasilidade.


“Há quase setenta anos que habito o Rio,
tenho o direto a ser carioca; 
local onde o meu espírito se formou 
e abriu-se à sensação estética 
que até hoje me prende à vida 

Sua vinda para o Brasil deu-se por influência de D. Francisca de Souza Monteiro de Barros, a baronesa de Guararema, aluna de pintura de Victor Meirelles e que se tornaria sua grande incentivadora e protetora. Como seus irmãos mais velhos, passou a viver na Fazenda São Luiz, em São José de Além Paraíba, de propriedade de Luiz de Souza Breves, o barão de Guararema.

Se a intenção do barão e da baronesa ao trazer os irmãos Visconti para o Brasil era ter mão de obra para a lavoura de café, a afeição da baronesa pelos irmãos frustraria esses planos e logo os afastaria da fazenda. Essa afeição, declarada em cartas da baronesa, ajudou Eliseu a superar a ausência dos pais, que nunca vieram ao Brasil e a iniciar sua brilhante carreira artística. 

Ainda jovem, Eliseu mudou-se para o Rio de Janeiro e se instalou no bairro do Andaraí, iniciando seus estudos de música com o compositor Vincenzo Cernicchiaro, no Club Mozart, na Rua da Constituição. Mas as lições de solfejo com Henrique Alves de Mesquita afastaram Eliseu da música. E o talento pelas artes plásticas prevaleceu, quando a baronesa viu um de seus desenhos, representando a figura de uma camponesa romana.

A conselho da baronesa, Visconti abandonou as aulas de música e iniciou os estudos de desenho e pintura no Liceu de Artes e Ofícios. Naqueles idos de 1882, a baronesa era a proprietária do antigo solar da marquesa dos Santos, em São Cristóvão, hoje Museu do Primeiro Reinado. Lá conservava precioso acervo de arte, com certeza mais um incentivo ao jovem Visconti. 

Sem abandonar o Liceu, ingressou na Imperial Academia de Belas Artes do Rio de Janeiro, em 1885, estimulado por D. Pedro II. O imperador, um ano antes, em uma de suas visitas ao Liceu, impressionado com uma escultura de Visconti, aconselhou o jovem Eliseu a continuar seus estudos na Academia: 

“Por que o senhor não entra na Academia? 
O senhor deve entrar o quanto antes na Academia”

Disse-lhe D. Pedro II ao ser apresentado a Visconti. O imperador gostava de pessoalmente distribuir os prêmios aos alunos da Instituição.

Em 1886, ao receber de D. Pedro II o prêmio da Medalha de Prata em Ornatos, ouviu do imperador:

  “Vejo que o senhor progride. Isto me causa grande satisfação. 
Quando entra para a Academia”?



carta de agradecimento de Eliseu Visconti para Pereira Passos, 
em 3 de outubro de 1905, 
pelo convite para realizar obras de arte no Theatro Municipal


Emocionado por ter sido reconhecido pelo imperador, Visconti gagueja e não consegue agradecer a D. Pedro, nem lhe comunicar que já ingressara na Academia. Anos depois, o agradecimento veio em forma de homenagem, quando Visconti, já em plena República e mesmo sofrendo críticas, inclui a figura do imperador no pano de boca do Theatro Municipal do Rio de Janeiro.

Inspirado na Ópera de Paris, a célebre Opera Garnier, e, a convite do prefeito Pereira Passos, realizou a que é considerada sua principal obra: a pintura da boca de cena e do foyer do Municipal, que está completando 110 anos neste mês. O pintor também faria 153 anos no dia 30 de julho deste ano. 


Pintando a boca de cena

A obra da boca de cena pronta


Resultado de imagem para foyer do Municipal
Visconti no atelier da Rue Didot, com os painéis do Foyer

Imagem relacionada
 Painel central do Foyer

A foto abaixo, guardada com outros negativos de vidro, pela família, 

por cerca de 100 anos, revela uma foto inédita de Visconti, de 1915, 
sentado num andaime em seu atelier em Paris, diante da pintura do foyer.


VISCONTI NO ANDAIME COM O PAINEL CENTRAL DO FOYER - c.1915

Eliseu Visconti foi nosso vizinho ilustre em Copacabana. 

Ao retornar de Paris, onde frequentou a Academia Francesa de Belas Artes, gozando uma bolsa de estudos concedida por D. Pedro II, Visconti se instalou em uma chácara na Ladeira do Barroso, atual Ladeira dos Tabajaras, em Copacabana. 

Hoje, no local,  Ladeira dos Tabajaras, 155 -  esquina com a Travessa Santa Margarida encontra-se o Edifício Eliseu Visconti.





“Se o fim da arte é despertar a emoção alheia, 
que importam os meios de que o artista lançou 
mão para conseguir essa finalidade”! 


Visconti faleceu no Rio de Janeiro, no dia 15 de outubro de 1944, aos 78 anos de idade.

Uma curiosidade:

Em 2016, ano dos 150 anos de nascimento de Eliseu Visconti, a equipe do Theatro Municipal foi surpreendida com uma feliz descoberta: uma tela com dois metros de diâmetro, sem título atribuído e localizada no teto da antessala do Camarote do Governador.
Após intensas pesquisas na documentação do Theatro e, ao serem examinadas as correspondências de 1933 do então diretor do Municipal, Roberto Doyle Maia, veio a grande constatação: a autoria da obra é de Eliseu D'Angelo Visconti.








2 comentários:

AJ Caldas disse...

Bom dia, Elizabeth, adorável texto! Naturalmente que uso dele farei, para o que peço sua licença antecipada. Um abraço carinhoso!

Nossos Vizinhos ILustres disse...

Divulgar nossa história sempre pode! Abs