. Rua Barão de Jaguaripe, 64 - Ipanema
Em seu primeiro livro, a autobiografia Uma Vida, Plinio Doyle (1906 - 2000) recorda suas visitas ao centro da cidade. Nos anos da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), ele acompanhava o pai para saber as últimas notícias do conflito.
"Depois do jantar, costumava pegar com meu pai o bonde Ipanema/Túnel Velho, que passava em frente à nossa casa, na Rua General Polidoro, em Botafogo, e ia até a Galeria Cruzeiro, na Avenida Rio Branco. Lá, na porta do jornal O Paiz, conseguíamos obter notícias do dia: um jornalista com letra boa escrevia num quadro- negro enorme, pendurado na porta do jornal."
Aos 19 anos, quando escolheu a carreira que iria seguir, Plínio Doyle, não imaginava que a paixão pelos livros lhe daria notoriedade. Apesar de ter sido advogado de grandes editoras, como a José Olympio, e procurador da Fazenda Nacional, foi sua "profissão" de bibliófilo que o levou a colecionar 25 mil volumes de literatura brasileira, entre livros, jornais e revistas. E a ficar amigo de escritores como Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Pedro Nava, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, Afonso Arinos, José Lins do Rego e Otto Lara Resende, entre outros.
Sentado em seu escritório no apartamento de Ipanema, cercado de livros e de fotos, Plínio Doyle relembra o início: "ao ler um elogio de Machado de Assis a uma peça de José de Alencar chamada “Mãe”, resolvi adquirir a obra. Fui então ao centro da cidade procurar a peça do Alencar e comecei a frequentar a Livraria Quaresma, um sebo na Rua São José". Ele se lembra também de ter lido, aos 11 anos, Dom Casmurro, de Machado de Assis.
Desde a infância, Plínio foi um leitor contumaz, influenciado pelo pai, Leopoldo Doyle Silva, funcionário público e professor de matemática. Foi justamente de Machado de Assis que Plínio amealhou o maior número de livros: 630 volumes, incluindo 75 traduções.
Em 1986, para avaliar o verdadeiro tesouro que tinha em casa, Plínio Doyle contou com a ajuda de Carlos Drummond de Andrade, um de seus melhores amigos, fundador do sarau literário semanal que, por reunir escritores no sábado na casa de Plínio, foi batizado pelo poeta Raul Bopp de sabadoyle. As primeiras reuniões foram iniciadas em 1964, na casa em que Plínio morava (nosso vizinho ilustre em Ipanema) na rua Barão de Jaguaripe, 64 e mais tarde, o sabadoyle, frequentado por cerca de 15 escritores, passou a ser no apartamento-biblioteca, ao lado da casa, na rua Barão de Jaguaripe, 72 apartamento 201.
Dos sabadoyles, participavam, além de Drummond, Pedro Nava, Afonso Arinos, Clarice Lispector, Lygia Fagundes Telles, Homero Homem, Cyro dos Anjos e Raul Bopp, entre outros escritores.
Em 1988, sua biblioteca - que tinha 300 volumes só da obra de Carlos Drummond de Andrade - foi vendida para o Ministério da Cultura e então transferida para a Fundação Casa de Rui Barbosa, no Rio.
Coleção Plínio Doyle
Conjunto de cerca de 25.000 livros e 1.788 títulos de periódicos, alguns de extrema raridade, formado pelo seu criador ao longo de mais de 60 anos de persistente pesquisa. Inclui prosa, poesia, ensaios críticos, edições de arte, traduções, bem como revistas e jornais literários dos séculos XIX e XX.
Dentre os livros, cerca de 3.000 são considerados obras raras, havendo inúmeras primeiras edições e muitos exemplares com dedicatórias autografadas.
Doyle foi presidente do Sindicato dos Escritores, diretor da Biblioteca Nacional e tem em sua biografia o fato de ter criado uma academia de letras, sem fardão e sem jeton, que, ao contrário da Academia Brasileira de Letras, pôde contar com Carlos Drummond de Andrade entre seus membros.
Plínio guardou 12 volumes de atas do sabadoyle. Em 34 anos, ele faltou a apenas duas reuniões: uma, em 1985, porque estava no hospital, e a outra, em 1981, porque foi visitar sua única filha, Sônia, em Brasília, logo depois do falecimento de sua mulher Esmeralda.
Fotos de sabadoyles
Da esquerda para direita, em pé: Péricles Madureira de Pinho, Severo da Costa, Maximiano de Carvalho e Silva, Homero Homem, Peregrino Júnior, Esmeralda Doyle, Pedro Nava, Carlos Drummond de Andrade, Joaquim Inojosa,Bernardo Élis, Jesus Belo Galvão, Américo Jacobina Lacombe, Paulo Berger, Mário da Silva Brito, Olímpio Monat;sentados: Fernando Monteiro, Raul Lima, Álvaro Cotrim, Sonia Doyle, Gilberto Mendonça Teles, Plínio Doyle, MuriloAraújo, Rita Moutinho Botelho, Alphonsus de Guimarães Filho, Horácio de Almeida e Raul Bopp.
Depois de 1.708 reuniões, os encontros deixaram de acontecer em 1998. Plínio já se sentia cansado para receber os convidados.
"Só não falávamos de política e religião porque são assuntos complicados,
que podiam gerar polêmica. Talvez, por isso, o sabadoyle tenha durado 34 anos".
que podiam gerar polêmica. Talvez, por isso, o sabadoyle tenha durado 34 anos".
Doyle morreu no Rio, aos 94 anos, de insuficiência respiratória decorrente de uma pneumonia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário