domingo, 14 de abril de 2019

MÁRIO DE ANDRADE


  . Rua Santo Amaro, 5 - Glória  

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Mário Raul de Moraes Andrade, ou simplesmente, Mário de Andrade (1893 - 1945), o autor de “Pauliceia Desvairada” e “Macunaíma” , considerado o escritor mais nacionalista e múltiplo dos brasileiros, construiu um caráter revolucionário na literatura brasileira, e tem, no período em que viveu na cidade do Rio de Janeiro (1938-1941), um dos menos conhecidos da sua vida.

A sua estadia no Rio foi marcada por uma grande depressão.

"O Rio me aturde, me empurra, me repudia. Depois de uma primeira experiência, nunca mais andei pela avenida Rio Branco às 17 horas"

O motivo principal da sua depressão: o desmonte pelo Estado Novo, em 1938, do Departamento de Cultura de São Paulo, que Mário chefiou por três anos. O contexto político também o entristecia. No Brasil, a ditadura de Getúlio Vargas. Na Europa, a Segunda Guerra.

No Rio , Mário de Andrade foi nosso vizinho ilustre em dois bairros: Glória e Santa Teresa.

Primeiro morou em um apartamento na Rua Santo Amaro, 5, na Glória. Depois se mudou para uma casa, já demolida,  na Ladeira Santa Teresa, 106, no bairro de Santa Teresa, onde foi vizinho dos amigos Rachel de Queiroz e Manuel Bandeira.

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Mário de Andrade, em seu apartamento na Glória , em 1938. 

Na parede, a tela "O Mamoeiro", de Tarsila do Amaral 





Na entrada do prédio da Glória,
na esquina da Rua Santo Amaro com Rua do Catete
existe uma placa sinalizando o morador ilustre.



No Rio, renovou amizades e teve uma vida independente da família, já que até então, morara com a mãe. E até se apaixonou pelo samba, segundo o amigo Lúcio Rangel, crítico e grande conhecedor de samba, que o aproximou do ritmo. 

"Poucos sentiram o samba carioca como ele!"
 escreveu Rangel no jornal "Correio do Povo", em 1961.

Mário fora convidado para viver no Rio pelo então ministro da Educação, Gustavo Capanema, e seu chefe de gabinete, o poeta Carlos Drummond de Andrade. Queriam que dirigisse o Serviço de Teatro, mas o escritor quis um cargo de menos destaque.

Teve três empregos na cidade: foi diretor e professor de filosofia e arte no Instituto das Artes da Universidade do Distrito Federal até 1939, seguiu para o Instituto Nacional do Livro e depois para o SPHAN (Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), que ajudara a fundar em 1937.

Mário viveu a boemia carioca. Foi frequentador do Amarelinho, da Taberna da Glória - seu bar preferido - onde passou madrugadas a fio com amigos.

Em 1939, foi cronista do jornal O Estado de São Paulo,  e enviou crônicas do seu cotidiano no Rio de Janeiro. Seus textos eram publicados aos domingos. Falou sobre o forte calor, o trânsito, a música, o futebol.


crônica de 19 de março de 1939, há 80 anos.

O poeta, que nunca saiu do Brasil, se intitulava um ‘turista aprendiz’, expressão que se tornou título de um livro publicado em 1976, 31 anos depois da sua  morte. Um diário de viagens, rabiscos apressados e crônicas para jornais.

Sua sensibilidade e angustiante posição que havia adotado para nortear sua vida o fazia protestar contra os insinceros, contra os vacilantes, contra os vendidos, contra os vira-casacas, contra os participantes da ditadura de Vargas em plena expansão.


Da esquerda para a direita: Cândido Portinari, Antônio Bento, 
Mário de Andrade e Rodrigo Melo Franco. 
Palace Hotel, Rio de Janeiro, 1936.




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Sob a condição de crítico musical, inúmeras vezes, Mário de Andrade escreveu sobre os aspectos que considerava defeituosos na obra de Villa-Lobos. As “muitas repetições, desequilíbrios, facilidades e efeitos de sua música” eram sempre criticados. Mas, Mário reconhecia que “a falta de lucidez” e o “arroubo constante” eram a salvação do compositor, de modo que sem a presença de tais atributos, Villa-Lobos certamente, poderia incorrer em uma espécie de previsibilidade ou “cabotinismo”.

Mário de Andrade foi uma criatura bastante ponderada e distinta. Introspectivo e inteligente, possuía dentre suas características, a virtude da reflexão. Agir por meio de impulsos, definitivamente, não fazia parte de sua personalidade. Intelectual ímpar, registrou seu amor à música e ao Brasil em diversas obras. Foi crítico, colecionador de discos, professor, pesquisador, escritor e musicólogo. Um obstinado, designado a apreender e propagar a música regional, tantas vezes esquecida e marginalizada.

Admitiu em carta ao amigo Manuel Bandeira sua homossexualidade , de maneira lúcida, dizendo “Mas em que podia ajuntar em grandeza ou melhoria pra nós ambos, pra você, ou pra mim, comentarmos e eu elucidar você sobre a minha tão falada (pelos outros) homossexualidade? Em nada..." No entanto seu biógrafo Jason Tércio aposta que o escritor era mais bissexual do que puramente homossexual.
Em nada isso afeta a sua obra, nem seu caráter. Sem nenhuma relevância.


Curiosidades
. Sabe-se que Mário de Andrade apreciava o bem comer e o bem beber. Rachel de Queiroz, em um depoimento sobre Mário de Andrade, em 31 de agosto de 1992, contou sobre o doce de bêbedo.

" O Mário ficou na Ladeira de Santa Teresa e subia a pé até a minha casa. A gente tinha um convívio de comadres: faltava um açucrinha, um ajudava o outro. Quando ele ia receber uma visita, às vezes, eu ajudava com alguma coisa; quando eu ia receber amigos, ele vinha com uma receita. E ele tinha um famoso doce, que era horrível, que ele chamava doce de bêbedo. Ele pegava umas compotas, feitas quase sem açúcar, e entremeava com manjar branco, feito sem açúcar. Punha um pouco de leite de coco, punha para gelar e ficava aquela espécie de gelatina, mas era muito ruim. Ele ficava muito indignado, porque ninguém gostava do doce de bêbedo. E nós dizíamos: ‘Mas nós ainda não somos suficientemente bêbedos pra chegar a esse grau de refinamento."



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Mário de Andrade estampou a nota de Cr$ 500.000,00 (Quinhentos mil cruzeiros), que entrou em circulação no ano de 1993. O Brasil vivia um período de inflação galopante na época em que foi lançada. Com o surgimento do Plano Real, no entanto, ela logo foi tirada de circulação.

À frente de seu tempo, Mário de Andrade permaneceu sempre atual face aos olhos daqueles que se propõem a estudá-lo, a relê-lo e revisitá-lo - hoje a obra de Mário de Andrade já é de domínio público- reconhecendo sempre a importância que teve (e tem) para a consolidação do entendimento acerca das bases culturais brasileiras.




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