sábado, 1 de setembro de 2018

JULIA LOPES DE ALMEIDA



  . Rua Joaquim Murtinho, 587 - Santa Teresa   

Júlia Lopes de AlmeidaNo grupo de escritores e intelectuais que se mobilizaram para criar a ABL, uma grande figura da Literatura Nacional daquele tempo ficou de fora por um pequeno detalhe, e não foi a língua, foi a saia. A carioca Júlia Lopes de Almeida (1862 - 1934), aniversariante de setembro, ficou de fora desse “panteão” por causa desse pequeno detalhe: era mulher. 

A História se esqueceu de contar a trajetória de escritores mulheres. Júlia, por exemplo, escreveu romances e peças de teatro além de livros infantis, fazendo muito sucesso na sua própria época. Também escreveu para diversos jornais e revistas, como a Gazeta de Campinas, A Semana, A Mensageira.

Júlia teve uma carreira de escritora e jornalista de mais de 40 anos. Ela defendia a educação feminina, o divórcio e a abolição da escravatura. Já preocupada com a questão do cuidado, ela defendia também a instalação de creches, naquela época. Apontada por umas como feminista e por outras como uma mera reprodutora da ideologia dominante da época. 

Desde cedo mostrou forte inclinação pelas letras, embora no seu tempo de moça não fosse de bom-tom nem do agrado dos pais, uma mulher dedicar-se à literatura. Inicia seu trabalho na imprensa aos 19 anos, em A Gazeta de Campinas, numa época em que a participação da mulher na vida intelectual é rara e incomum. Três anos depois, em 1884, começa a escrever também para o jornal carioca O País, numa colaboração que dura mais de três décadas. Mas é em Lisboa, para onde se muda em 1886, que se lança como escritora.

De volta ao Brasil, em 1888, logo publica seu primeiro romance, Memórias de Marta, que sai em folhetins em O País.

Seu estilo é marcado pela influência do realismo e do naturalismo francês, e uma das suas crônicas veio a inspirar Artur Azevedo ao escrever a peça O dote. Júlia era chamada de A George Sand Brasileira e foi uma das poucas a participar, no início do século XX, da série de conferências, inaugurada por Coelho Neto e Olavo Bilac, que gerou inúmeras polêmicas sobre o papel da mulher na sociedade brasileira.

Em entrevista ao escritor João do Rio, o marido de Júlia,  o poeta e teatrólogo português Filinto de Almeida confessou

"Há muita gente que considera D. Júlia 
o primeiro romancista brasileiro.
Pois não é? 
Nunca disse isso a ninguém,
mas há muito que o penso. 
Não era eu quem deveria estar na Academia,
era ela."

Mulher à frente de seu tempo, Júlia com uma linguagem leve, simples, cativou seu público, escreveu e publicou mais de 40 volumes entre romances, contos, narrativas, literatura infantil, crônicas e artigos. Foi abolicionista e republicana além de mostrar, em suas obras, idéias feministas e ecológicas.
Em duas fases da vida, no início do seculo XX e ao final da vida, nos anos 1930.
"Por que não o hei de enganar do mesmo modo? Em consciência, não há homens nem mulheres: há seres com iguais direitos naturais, mesmas fraquezas e iguais responsabilidades...Mas não há meio dos homens admitirem semelhantes verdades. Eles teceram a sociedade com malhas de dois tamanhos – grandes para eles, para que seus pecados e faltas saiam e entrem sem deixar sinais; e extremamente miudinhas para nós."

Júlia Lopes de Almeida, em “Eles e elas”. 2ª ed., Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1922, p. 137.



Júlia Lopes de Almeida foi nossa vizinha ilustre na Rua Joaquim Murtinho, 587, em Santa Teresa,  onde os saraus literários e musicais que promovia junto com Filinto, nos salões de casa, reuniam artistas como o pintor Eliseu Visconti, escritores como Aluísio Azevedo e poetas como Olavo Bilac.

A casa nos dias atuais se encontra bem preservada


Julia em seu escritório


Um comentário:

Unknown disse...

É tão bom quando conhecemos histórias de nossa cidade e seus filhos. Histórias escondidas, engavetadas, de um tempo em que a mulher não era absolutamente valorizada. Nascia para ser esposa, dona de casa e mãe. A personagem deste estudo, por exemplo, deve ter sofrido inúmeros ataques, pelas suas escolhas, e veja bem, não eram escolhas que agrediam a moral e os bons costumes, simplesmente ficavam em pé de igualdade com os homens. Uma heroína para seu tempo.