UM ENDEREÇO, UMA VIDA, UMA HISTÓRIA. Os endereços de personalidades brasileiras ou estrangeiras que moraram na cidade do Rio de Janeiro, ao longo dos tempos.
sexta-feira, 30 de dezembro de 2016
MARIAZINHA GUINLE
. Av. Atlântica, 1702 - Copacabana
O Réveillon da praia de Copacabana, uma das maiores atrações turísticas do
Rio, reúne em sua orla milhões de pessoas vestidas de branco e irmanadas com o
mesmo sentimento, lançando suas preces e oferendas a Iemanjá. A festa culmina
com o show de fogos de artifício, que teve seu início em 1981, comandada por
Ricardo Amaral, bem em frente ao Hotel Copacabana Palace, ícone da hotelaria
carioca.
Natural, portanto, que para encerrar o tema “Natal e Festas” de dezembro,
nosso olhar se volte para D. Mariazinha Guinle ( 1911 - 1993) que, por tantos
anos, comandou o hotel e nele residia.

Ocupando quase uma quadra inteira na
Avenida Atlântica, o “Copa”, como é carinhosamente conhecido pelos íntimos, foi
projetado pelo arquiteto Joseph Gire, autor dos projetos de todos os palácios
construídos na cidade pela família Guinle, além do quase finado Hotel
Glória.
Até 1951, Otávio, casado em segundas núpcias com Maria Izabel Rodrigues
Pereira, morou na esquina da Avenida Atlântica com Figueiredo Magalhães, na casa
de praia de sua mãe Guilhermina e que pertencia aos seus irmãos.
Como ele não
era herdeiro, a família se mudou para o hotel, a princípio provisoriamente,
instalando-se na famosa Suíte B, servidos pelo casal de fiéis camareiros
portugueses Cacilda e Artur.
“A casa da Atlântica era um casarão em estilo normando que ocupava um quarteirão, indo da esquina da Rua Figueiredo Magalhães até a Domingos Ferreira. Tinha uma grande piscina de água salgada, construída pelo recato da matriarca Guilhermina, para não ter de se expor indo à praia.” (texto/livro Os Guinle, Clóvis Bulcão)
Foto :Augusto Malta - reprodução
O castelinho da matriarca Guilhermina Guinle, era uma das maiores casas da orla do bairro e ocupava o centro de um grande terreno que ia até a rua Domingos Ferreira.Foi construído na década de 1910 para ser a casa de veraneio dos Guinle, e possuía um belo jardim frontal de frente para a praia.
O castelinho dos Guinle foi demolido nos final dos anos 1940, sendo substituído pelo Edifício Camões, inaugurado em 1952, provavelmente o primeiro grande prédio em volume da Avenida Atlântica.

Edifício Camões
Durante as décadas de 30 e 40, até 1946, o hotel fervilhava e era o centro
dos acontecimentos sociais da cidade. O Golden Room, inaugurado na década de 30
como a primeira casa de espetáculos da América Latina, abrigou artistas
consagrados como Dionne Warwick, Josephine Baker, Ella Fitzgerald, Marlene
Dietrich, Ray Charles e Nat King Cole.
Entre seus hóspedes figuraram membros da realeza, presidentes, astros do
cinema e da música, esportistas, políticos, executivos que visitavam a cidade e
personalidades importantes em vários campos de atuação, nomes como Santos
Dumont, Gene Kelly, Orson Welles, Nelson Mandela, Princesa Diana, Príncipe
Charles e Arturo Toscanini. Seu Livro de Ouro vem sendo assinado por hóspedes
ilustres há oito décadas e o hotel também tem uma galeria de fotos das
principais personalidades que ali se hospedaram.
O primeiro baque veio em 1946 com o fechamento dos cassinos. Com o decreto
do presidente Dutra, o hotel teve de se readequar e perdeu sua base de
sustentação.
Outro grande golpe foi a morte de Octávio, em 1968. O hotel mergulhou em
uma grave crise econômica e dona Mariazinha passou a gerenciá-lo: cortou
despesas e realizou uma grande reforma, pois o hotel precisava de modernização.
E contratou Ricardo Amaral, empresário da noite, para tentar reviver os dias de
glória do Golden Room,
Amaral, conhecido como o rei da noite carioca, resolveu incrementar a festa
com uma queima de fogos nas areias da praia. Nessa primeira edição, em 1981,
cerca de 500 pessoas lotaram o Golden Room para assistir o espetáculo em frente
ao Copa. No ano seguinte, a festa se estendeu ao terraço e ao salão nobre, de
onde quase 1.200 espectadores viram os fogos. Houve um patrocínio e o foguetório
aconteceu também no Leme, onde o empresário Mario, da churrascaria Marius, se
somou à empreitada, e no Posto 5, com a adesão de outros hotéis da orla.
Em 1983, a festa começou a atrair a cidade para lá. Ricardo Amaral se
encarregou da festa até 1988, quando a prefeitura do Rio assumiu sua
organização.
Foi o início do Réveillon de Copacabana e sua famosa queima de fogos de
artifício, conhecido e reverenciado internacionalmente.
O hotel não sucumbiu à especulação imobiliária e foi
preservado até hoje, e pertence à cadeia Orient Express, desde 1989.
Curiosidade:
Em 1933, o Copacabana Palace foi utilizado como referência de cenário para o
filme “Flying down to Rio”, um marco cinematográfico no qual pela primeira vez
dançaram juntos Fred Astaire e Ginger Rogers.
sexta-feira, 23 de dezembro de 2016
ANTONIO RODRIGUES,PAPAI NOEL
. Rua Maxwell 20 B - Vila Isabel


Antonio Rodrigues ( 1918 -1990) ex- entregador de marmitas, motorista de lotação da linha Muda-Copacabana, afinador de pianos da Escola Nacional de Música, carioca de Vila Isabel, começou em 1952, modestamente em uma loja de Copacabana, uma atividade profissional que acabou registrada na Carteira de Identidade do Instituto Félix Pacheco:
PAPAI NOEL.
Um dia, ao volante, decidiu que a melhor maneira de ajudar as crianças seria se tornar o bom velhinho e acabou encontrando vaga nas Lojas Americanas de Copacabana, com um salário de 150 cruzeiros. Na hora h vestiu a roupa e não resistiu à emoção. O choro e as lágrimas destruíram a maquiagem , e ele começou a função uma hora depois do combinado.
Dez dias depois, soube que a Legião Brasileira de Assistência faria uma grande festa no Maracanã. Procurou dona Darcy Vargas, a primeira-dama, e se ofereceu pra ser o Papai Noel. Assim , em 22 de dezembro de 1952 , Papai Noel descia pela primeira vez de helicóptero no estádio cheio de crianças. Nos anos seguintes outros presidentes e primeiras-damas iriam recebê-lo, da tribuna de honra até que em 1958 o prefeito do Rio lhe concedeu o título oficial da cidade e em 1959, Juscelino Kubitschek concedeu-lhe o título de Papai Noel Oficial do Brasil. Em 1963, ele ganhou a carteira de identidade número 505520 do Instituto Félix Pacheco, com o título incorporado ao nome.
Foi casado por 53 anos com dona Nailda, teve uma única filha, que morreu logo após nascer.
Morador de uma casa amarela, na rua Maxwell 20-B, onde qualquer carta dirigida a Papai Noel era entregue pelos Correios - que sabiam de cor esse endereço - e onde ele mesmo montou um museu com objetos, fotos e reportagens.
Ao longo de 38 anos reuniu milhões de pessoas no Maracanã pra assistir à "sua" chegada. Morreu em novembro de 1990.
Uma curiosidade:



Antonio Rodrigues ( 1918 -1990) ex- entregador de marmitas, motorista de lotação da linha Muda-Copacabana, afinador de pianos da Escola Nacional de Música, carioca de Vila Isabel, começou em 1952, modestamente em uma loja de Copacabana, uma atividade profissional que acabou registrada na Carteira de Identidade do Instituto Félix Pacheco:
PAPAI NOEL.
Um dia, ao volante, decidiu que a melhor maneira de ajudar as crianças seria se tornar o bom velhinho e acabou encontrando vaga nas Lojas Americanas de Copacabana, com um salário de 150 cruzeiros. Na hora h vestiu a roupa e não resistiu à emoção. O choro e as lágrimas destruíram a maquiagem , e ele começou a função uma hora depois do combinado.
Dez dias depois, soube que a Legião Brasileira de Assistência faria uma grande festa no Maracanã. Procurou dona Darcy Vargas, a primeira-dama, e se ofereceu pra ser o Papai Noel. Assim , em 22 de dezembro de 1952 , Papai Noel descia pela primeira vez de helicóptero no estádio cheio de crianças. Nos anos seguintes outros presidentes e primeiras-damas iriam recebê-lo, da tribuna de honra até que em 1958 o prefeito do Rio lhe concedeu o título oficial da cidade e em 1959, Juscelino Kubitschek concedeu-lhe o título de Papai Noel Oficial do Brasil. Em 1963, ele ganhou a carteira de identidade número 505520 do Instituto Félix Pacheco, com o título incorporado ao nome.
Foi casado por 53 anos com dona Nailda, teve uma única filha, que morreu logo após nascer.
Morador de uma casa amarela, na rua Maxwell 20-B, onde qualquer carta dirigida a Papai Noel era entregue pelos Correios - que sabiam de cor esse endereço - e onde ele mesmo montou um museu com objetos, fotos e reportagens.
Ao longo de 38 anos reuniu milhões de pessoas no Maracanã pra assistir à "sua" chegada. Morreu em novembro de 1990.
Uma curiosidade:
Durante 21 anos teve um "contrato" com o jornal O GLOBO, que organizava a festa da chegada de Papai Noel. Mas um contrato com o empenho de sua palavra, sem nenhum papel assinado e dizia sempre que ele iria vigorar "enquanto eu estiver sobre a Terra".
sexta-feira, 16 de dezembro de 2016
ABRAHAM MEDINA
. Rua Décio Villares, 265 - Bairro Peixoto


Parada de Natal
Como comerciante, Medina realizou inúmeros eventos na cidade, com o
objetivo de incrementar as vendas do Rei da Voz, conseguindo explorar o
potencial da cidade para o turismo, como nenhum outro empresário. Ele entendia
que quanto mais feliz estivesse a cidade mais ele vendia. Dentre estes eventos
que ficaram na história da cidade, está o Festival do Rio, que englobava
diversos festivais: festival da canção, festivais de culinária, de ballet,
encontros de folclore e apresentações de bandas, além da festa do IV Centenário,
promovida pelo empresário a pedido do governador Carlos Lacerda.
A abertura do programa NOITE DE GALA!

Um dos maiores empresários brasileiros,
Abraham Medina (1916 -1995) comemoraria hoje, dia 16 de dezembro, seu centenário. No mesmo mês das famosas Caravanas dos Reis Magos (em parceria com o Correio da Manhã) e da Parada de Natal, (em parceria com o Globo) por ele idealizadas e que se realizaram no Rio de 1956 a 1965, com um tremendo sucesso.
Nasceu em Belém do Pará e mudou-se para o Rio de Janeiro, com os pais, aos dois anos. Muito jovem ainda, aos dez anos, foi morar com o tio, Samuel Garson, por não suportar os maus-tratos de sua madrasta. Como técnico de piano, profissão que aprendeu com o pai, impulsionou os negócios do tio, dono da Casa Garson, que ficava na Rua Gomes Freire, e que consertava e reformava pianos. Nesta mesma rua, tio e sobrinho abriram em sociedade a loja O Rei da Voz, dedicada à venda de aparelhos eletrodomésticos, e que viria a se transformar na maior rede de lojas do gênero no Rio de Janeiro, uma potência na venda de discos e eletrolas.
Abraham Medina (1916 -1995) comemoraria hoje, dia 16 de dezembro, seu centenário. No mesmo mês das famosas Caravanas dos Reis Magos (em parceria com o Correio da Manhã) e da Parada de Natal, (em parceria com o Globo) por ele idealizadas e que se realizaram no Rio de 1956 a 1965, com um tremendo sucesso.
Nasceu em Belém do Pará e mudou-se para o Rio de Janeiro, com os pais, aos dois anos. Muito jovem ainda, aos dez anos, foi morar com o tio, Samuel Garson, por não suportar os maus-tratos de sua madrasta. Como técnico de piano, profissão que aprendeu com o pai, impulsionou os negócios do tio, dono da Casa Garson, que ficava na Rua Gomes Freire, e que consertava e reformava pianos. Nesta mesma rua, tio e sobrinho abriram em sociedade a loja O Rei da Voz, dedicada à venda de aparelhos eletrodomésticos, e que viria a se transformar na maior rede de lojas do gênero no Rio de Janeiro, uma potência na venda de discos e eletrolas.

Parada de Natal
Ainda como diretor da Casa Garson, patrocinadora do programa dominical de
Francisco Alves, na Rádio Nacional, Abraham Medina aproximou-se do querido
cantor, a quem homenageou, dando o nome de Rei da Voz à casa comercial
recém-inaugurada.

Idealizador do programa Noite de Gala, da extinta TV Rio, Medina foi
responsável pela vinda ao Rio de artistas internacionais famosos - como a
cantora Connie Francis da foto ao lado, à esquerda.
A abertura do programa NOITE DE GALA!
Muitos artistas internacionais frequentaram a casa amarela de Medina, na Rua Décio Villares, no Bairro Peixoto, assim como políticos, artistas brasileiros de renome e empresários, que fizeram parte de sua vida. A casa amarela já não existe mais: deu lugar a um edifício.
Curiosidades:
. As geladeiras eram todas brancas e em determinado momento Abraham Medina
pensou porque é que as geladeiras tinham de ser só brancas. E mandou pintar as
geladeiras de seus fornecedores, e começou a vender geladeira
colorida.
. Com a chegada da televisão no Brasil, as lojas Rei da Voz passaram a vender
os aparelhos.Mas eles encalharam porque não tinha programação.Eram 2 programas,
em média, diários.Então o que Abraham Medina foi fazer? Se juntou com uma série
de produtores, montou todo um estúdio próprio, montou um programa que foi o
maior programa da televisão brasileira durante muitos anos.Assim nasceu NOITE DE
GALA.
. “Abraham Medina em Noite de Gala” foi também o enredo da Escola de Samba do Grupo A Acadêmicos de Santa Cruz, no ano de 1999.
. “Abraham Medina em Noite de Gala” foi também o enredo da Escola de Samba do Grupo A Acadêmicos de Santa Cruz, no ano de 1999.
domingo, 11 de dezembro de 2016
ASSIS VALENTE
. Rua Santo Amaro, 112 - Glória
Baiano de Santo Amaro foi ilustrador nos anos 1920, se profissionalizou em prótese dentária enquanto aguardava seu sonho, a carreira musical.
E foi em 1933 que Assis Valente estourou em todo o Brasil, quando o novato Carlos Galhardo alcançou o estrelato ao lançar Boas Festas, uma canção natalina, que se tornou um fenômeno de popularidade - composta quando estava solitário no quarto onde morava, na Praia de Icaraí, em Niterói, em pleno Natal - que acabou se transformando na canção natalina mais conhecida dos brasileiros e uma das poucas do gênero que atravessou os tempos.
Sua carreira alcançou o auge coincidindo com a época de ouro do rádio brasileiro, tendo no samba seu maior representante. Com a voz de Carmen Miranda suas canções ficaram conhecidas - ela gravou 25 músicas suas - dentre elas Camisa Listrada, que muitos críticos consideram sua obra prima.
Apesar de uma das marcas da simpatia de Assis
Valente ser o sorriso aberto, este escondia um abismo de depressão, que se
tornou insuportável no fim da vida, quando o talento musical decaiu, a estrela
Carmen Miranda (por quem nutria uma "paixonite", diziam) deixou de gravá-lo - recusou a belíssima Brasil Pandeiro...Chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor... - e ele acumulou
dívidas financeiras em bola de neve.
O uso de drogas, principalmente cocaína, aumentou a depressão.
O uso de drogas, principalmente cocaína, aumentou a depressão.
Tentou seis vezes o suicídio. A primeira delas mobilizou rádio e jornal e foi transmitida ao vivo, quando escolheu o lado mais perigoso do Corcovado e pulou sem camisa, de costas. Mas a queda foi amortecida pelas árvores e ele resgatado, pelos bombeiros, vivo. A última tentativa tirou-lhe a vida: em
um banco da Praia do Russel, próximo à sua casa na Glória, junto de um playground onde brincavam crianças,
tomou veneno com
guaraná.
Assis Valente morou grande parte da vida na Ilha do Governador. Por lá viveu na Rua Carlos Ilídio, no bairro do Cocotá .
Uma curiosidade:
"Vou parar de escrever, pois estou chorando de saudade de todos, e de tudo."
domingo, 4 de dezembro de 2016
DAVID NASSER
. Rua Oliveira da Silva, 40 Tijuca
David Nasser ( 1917-1980) nascido em 1° de janeiro - centenário! - foi o repórter mais famoso de seu tempo - entre os anos 50 e os 70.
Trabalhou entre 1943 e 1974, na revista O Cruzeiro e por lá formou uma parceria com o fotógrafo Jean Manzon e tornaram-se então a mais comentada dupla de repórter-fotógrafo do Brasil.
David Nasser era uma figura que dava pouca relevância para os fatos e muita para o efeito de suas reportagens. Inventava, alterava, adequava a realidade à carga de efeito que seus escritos pudessem trazer. Era mais importante do que a notícia.
Notabilizou-se pelas chamadas grandes reportagens de impacto, livros de grande repercussão e compôs cerca de 300 músicas, algumas de muito sucesso, como Nêga do Cabelo Duro (com Rubens Soares), Camisola do Dia, Hoje Quem Paga Sou Eu, Atiraste uma Pedra (com Herivelto Martins), Confete (aquela do "pedacinho colorido de saudade", com Jota Júnior), Normalista (com Benedito Lacerda, grande sucesso na voz do amigo Nelson Gonçalves), Canta Brasil (com Alcir Pires Vermelho)
David Nasser nasceu em Jaú, no interior de São Paulo, em 1917. Ano que vem comemora-se seu centenário. Os primeiros anos de vida foram passados em Caxambu, Minas Gerais, e, quando era adolescente, veio com a família para o Rio de Janeiro.
Sempre morou na Tijuca. Dois de seus endereços no bairro, foram:

Jean Manzon, 1946 - Revista O Cruzeiro
David Nasser ( 1917-1980) nascido em 1° de janeiro - centenário! - foi o repórter mais famoso de seu tempo - entre os anos 50 e os 70.
Trabalhou entre 1943 e 1974, na revista O Cruzeiro e por lá formou uma parceria com o fotógrafo Jean Manzon e tornaram-se então a mais comentada dupla de repórter-fotógrafo do Brasil.
David Nasser era uma figura que dava pouca relevância para os fatos e muita para o efeito de suas reportagens. Inventava, alterava, adequava a realidade à carga de efeito que seus escritos pudessem trazer. Era mais importante do que a notícia.
Notabilizou-se pelas chamadas grandes reportagens de impacto, livros de grande repercussão e compôs cerca de 300 músicas, algumas de muito sucesso, como Nêga do Cabelo Duro (com Rubens Soares), Camisola do Dia, Hoje Quem Paga Sou Eu, Atiraste uma Pedra (com Herivelto Martins), Confete (aquela do "pedacinho colorido de saudade", com Jota Júnior), Normalista (com Benedito Lacerda, grande sucesso na voz do amigo Nelson Gonçalves), Canta Brasil (com Alcir Pires Vermelho)
E até a valsa que ainda hoje embala a despedida de ano novo "Adeus ano velho, feliz ano-novo...", parceria com Francisco Alves, muitos não sabem e é de David Nasser.
David Nasser nasceu em Jaú, no interior de São Paulo, em 1917. Ano que vem comemora-se seu centenário. Os primeiros anos de vida foram passados em Caxambu, Minas Gerais, e, quando era adolescente, veio com a família para o Rio de Janeiro.
Sempre morou na Tijuca. Dois de seus endereços no bairro, foram:
- rua Oliveira da Silva, 40, cobertura 02 , cujo telefone foi 38-6687
(no padrão antigo de 6 dígitos)
e - rua Barão de Mesquita bem em frente à Rua Silva Teles, em uma casa que todos achavam meio misteriosa e, aparentemente, muito grande para os padrões da época.
.Teve meningite, que lhe deixou sequelas. Andava com dificuldade, tinha os movimentos das mãos atrapalhados, enxergava mal e escrevia com dois dedos.
.O deputado federal Barreto Pinto foi entrevistado por David Nasser e deixou-se fotografar em seu gabinete e numa banheira, vestido de fraque e cartola, mas sem as calças (de cuecas samba-canção). O caso resultou na cassação do deputado.


Jean Manzon, 1946 - Revista O Cruzeiro
domingo, 27 de novembro de 2016
PIXINGUINHA
. Rua Pixinguinha, 23 - Ramos
Alfredo da Rocha Vianna, o Pixinguinha (1897-1973). O apelido era no diminutivo, mas ele foi superlativo em sua trajetória. Compôs algumas obras-primas da música carioca, foi virtuoso na flauta e no saxofone, destaque regendo orquestras, liderando grupos de choro, ou criando admiráveis arranjos.
A importância de Pixinguinha para o chorinho é a mesma da de Tom Jobim para a bossa nova, ou seja, ele sistematizou o ritmo e lhe deu novos contornos, muito avançados para a época.Mas sua genialidade não foi bastante para derrubar o preconceito racial.Como escreveu o flautista Altamiro Carrilho no livro Os sorrisos do choro, Pixinguinha contou a ele a história da composição Lamento.
A clássica interpretação do conjunto MPB4, em 1977, para a composição LamentoEm 1928, Os Oito Batutas fizeram enorme sucesso na França, o que teria levado o jornalista Assis Chateaubriand a convidar o grupo para uma homenagem em um hotel do Rio de Janeiro. Mas foram obrigados, pelo racismo vigente, a entrar pela porta dos fundos pois não se aceitava que negros entrassem pela porta principal. A reação de Pixinguinha foi repetir a palavra lamento algumas vezes e Donga, seu companheiro de grupo, sugeriu que compusesse uma música com esse título na qual, trinta anos depois, Vinicius de Moraes colocou a letra.
Um parênteses:Os Oito Batutas foi conjunto de choro formado por Pixinguinha na flauta, Donga e Raul Palmieri no violão, Nelson Alves no cavaquinho, China no canto, violão e piano, José Alves no bandolim e ganzá e Luis de Oliveira na bandola e reco-reco. Criado para apresentar-se no Cine Palais, o conjunto tornou-se uma atração maior que os próprios filmes.Daí que começaram a apresentar-se em festas em casas da alta sociedade e com patrocínio de Arnaldo Guinle, os Batutas viajaram a Paris em 1922Radamés Gnattali considerava Pixinguinha “o único gênio da música popular brasileira”. Sua música traz a criatividade , a sensibilidade, a capacidade de extrair o melhor de cada instrumento e fazer com que todos sejam parte de um formidável todo.
A primeira gravação de Carinhoso ainda não tinha a letra que Braguinha só escreveu em 1936, quando a atriz e cantora Heloísa Helena participava de uma peça teatral na qual queria cantar uma música. Ela foi uma das poucas pessoas que tinham adorado o choro "Carinhos". Assim, pediu ao compositor João de Barro, o Braguinha, que pusesse uma letra naquela canção. Braguinha pediu autorização a Pixinguinha e dois dias depois a tarefa foi concluída.Vinte anos depois da música. Aliás, letra que foi considerada avançada demais pr’aquela época.
2016: 100 anos da melodia e 80 anos da letra de Carinhoso.
Em 1937 a canção foi oferecida a dois medalhões do cancioneiro popular, Carlos Galhardo e Francisco Alves, os quais não se entusiasmaram em gravá-la. Sobrou a tarefa para Orlando Silva que já estava ficando um cantor famoso e a gravou, trocando o nome " Carinhos" para“Carinhoso”.Pouco tempo depois "Carinhoso" virou prefixo musical de Orlando Silva. Em 1966 ganhou uma interpretação de Elis Regina que também se tornou um clássico.
Pixinguinha foi Nosso Vizinho Ilustre em alguns bairros cariocas. Aqui destacamos três:
Até 1911 Pixinguinha morou com a família em um casarão de oito quartos e
quatro salas, na Rua Vista Alegre, logo apelidado de '' Pensão Vianna '' - no bairro do Catumbi - pois
estava sempre cheia de gente. Um detalhe: Pixinguinha costumava dizer que a pensão ficava na Rua Vista Alegre, mas contou ao pesquisador Almirante que o endereço era, na realidade, Rua Eleone de Almeida, nº 27.
Pixinguinha na frente do Conjunto dos Músicos.
Mas foi em uma rua do subúrbio carioca de Ramos, seu endereço famoso, onde
o músico morou durante 29 anos, a antiga Rua Belarmino Barreto atual Rua
Pixinguinha.
Por lá, tinha o hábito de sentar na cadeira de balanço, se inspirar e
tocar.

Curiosidades
- Certa madrugada, quando voltava de uma apresentação, Pixinguinha foi cercado por assaltantes. Durante o assalto, os ladrões reconheceram o músico e devolveram seu dinheiro e flauta. Ainda como pedido de desculpas, resolveram escoltá-lo até sua casa. No entanto, no meio do caminho, desta vez não havia uma pedra e, sim, um botequim. O episódio terminou em samba, cerveja .
- O Dia do Choro, comemorado em 23 de abril, é uma homenagem ao dia do
nascimento do compositor, arranjador, regente e instrumentista.
Aliás, pesquisa recente do Intituto Moreira Sales revelou documentos sobre uma nova data de nascimento de Pixinguinha, que seria 4 de maio de 1897.
domingo, 20 de novembro de 2016
DI CAVALCANTI
. Rua do Catete, 222 - Catete
Foi um dos primeiros artistas a pintar elementos da realidade social brasileira, como festas populares, a retratação das favelas, operários das grandes cidades. Do Rio, pintou o cotidiano , o samba, pintou várias Paquetás - onde em 1936, escondeu-se e lá foi preso com Noêmia Mourão, com quem casou em 1933 .

Consagrou-se trabalhando na Revista Fon-Fon, que possuía um viés político com charges sociais, caricaturas e pinturas de gênero , Nos anos 1920 torna-se amigo de intelectuais paulistas como Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Guilherme de Almeida, sendo sua a idéia da Semana de Arte Moderna de 1922, para a qual cria o catálogo e o cartaz.
Di Cavalcanti foi ainda um dos artistas mais premiados de sua época e ilustrou livros de grandes autores da Literatura brasileira como Vinícius de Moraes, Jorge Amado e Monteiro Lobato.
A riquíssima obra de Di Cavalcanti traz influências das principais escolas artísticas, no entanto, ele consegue desenvolver uma identidade tão forte que sua obra é reconhecida imediatamente, pela expressividade da sua arte que é genuinamente brasileira.
Di Cavalcanti expressava em suas obras a realidade social do Brasil, seu trabalho é recheado de críticas da realidade brasileira, mas também de retratações da vida cotidiana e política.
No Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro, no foyer de acesso ao balcão nobre, no segundo pavimento, encontram-se dois painéis executados em 1931 por Di Cavalcanti. Os murais, chamados de “Samba”, possuem forma octogonal e representam cenas evocando a dança e a música. De 4,5 x 5,5m foram pintados a óleo diretamente sobre a parede .
Os painéis, tombados pelo INEPAC, foram pintados a óleo diretamente sobre a parede. As datas 1931 e 1964 grafadas sob a assinatura registram respectivamente o ano da pintura e o da intervenção feita pelo autor mesmo.

Cheia de retratações de mulheres, Di as pintou em seus diversos momentos sob novos olhares para a época. As mulatas, símbolo da brasilidade de sua obra, eram sempre sensuais e coloridas. Conhecido como “O Pintor das Mulatas”, Mário de Andrade chamava-o de o “mulatista-mor“ da pintura. As fascinantes e misteriosas mulatas acompanharam Di Cavalcanti até o final de sua vida.
Di Cavalcanti
Di Cavalcanti passou por vários endereços em sua vida:
Emiliano Augusto Cavalcanti de Albuquerque e Melo,
ou apenas Di Cavalcanti (1897-1976),
nome em homenagem a uma prima conhecida por Dida,
que o fez adotar o nome artístico de Didi e depois, por simplificação,
passou a assinar simplesmente Di.
ou apenas Di Cavalcanti (1897-1976),
nome em homenagem a uma prima conhecida por Dida,
que o fez adotar o nome artístico de Didi e depois, por simplificação,
passou a assinar simplesmente Di.
Foi um dos primeiros artistas a pintar elementos da realidade social brasileira, como festas populares, a retratação das favelas, operários das grandes cidades. Do Rio, pintou o cotidiano , o samba, pintou várias Paquetás - onde em 1936, escondeu-se e lá foi preso com Noêmia Mourão, com quem casou em 1933 .

Consagrou-se trabalhando na Revista Fon-Fon, que possuía um viés político com charges sociais, caricaturas e pinturas de gênero , Nos anos 1920 torna-se amigo de intelectuais paulistas como Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Guilherme de Almeida, sendo sua a idéia da Semana de Arte Moderna de 1922, para a qual cria o catálogo e o cartaz.
Di Cavalcanti foi ainda um dos artistas mais premiados de sua época e ilustrou livros de grandes autores da Literatura brasileira como Vinícius de Moraes, Jorge Amado e Monteiro Lobato.
A riquíssima obra de Di Cavalcanti traz influências das principais escolas artísticas, no entanto, ele consegue desenvolver uma identidade tão forte que sua obra é reconhecida imediatamente, pela expressividade da sua arte que é genuinamente brasileira.
Di Cavalcanti expressava em suas obras a realidade social do Brasil, seu trabalho é recheado de críticas da realidade brasileira, mas também de retratações da vida cotidiana e política.
No Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro, no foyer de acesso ao balcão nobre, no segundo pavimento, encontram-se dois painéis executados em 1931 por Di Cavalcanti. Os murais, chamados de “Samba”, possuem forma octogonal e representam cenas evocando a dança e a música. De 4,5 x 5,5m foram pintados a óleo diretamente sobre a parede .
Os painéis, tombados pelo INEPAC, foram pintados a óleo diretamente sobre a parede. As datas 1931 e 1964 grafadas sob a assinatura registram respectivamente o ano da pintura e o da intervenção feita pelo autor mesmo.
Cheia de retratações de mulheres, Di as pintou em seus diversos momentos sob novos olhares para a época. As mulatas, símbolo da brasilidade de sua obra, eram sempre sensuais e coloridas. Conhecido como “O Pintor das Mulatas”, Mário de Andrade chamava-o de o “mulatista-mor“ da pintura. As fascinantes e misteriosas mulatas acompanharam Di Cavalcanti até o final de sua vida.

"A mulata, para mim, é um símbolo do Brasil.
Ela não é preta nem branca.
Nem rica nem pobre.
Gosta de música, gosta do futebol, como nosso povo."
Ela não é preta nem branca.
Nem rica nem pobre.
Gosta de música, gosta do futebol, como nosso povo."
Di Cavalcanti
- Nasceu na Rua do Riachuelo, foi criado no bairro de São Cristóvão, na chácara do avô materno;
- foi também morador do antigo Morro do Pinto;
- morou no extinto Hotel Central , na Praia do Flamengo
- no extinto Hotel dos Estrangeiros, na Praça José de Alencar
- sua última residência foi na Rua do Catete, 222 apartamento 801
Edifício onde viveu Di Cavalcanti à rua do Catete, 222
Duas curiosidades:
. A casa onde nasceu na Rua do Riachuelo é a do célebre abolicionista José do Patrocínio, que se casou com sua tia Maria Henriqueta vencendo todos os preconceitos da família desta, pelo fato de ser negro. Menino ainda, na casa do tio, conheceu gente famosa, como Machado de Assis e Joaquim Nabuco. Sua mãe, quando viúva, chegou a entreter um flerte com Olavo Bilac, com o qual, por pouco, não se casou.
. Os 75 anos do pintor foram muito bem comemorados. A edição do Correio da Manhã publicou
. A casa onde nasceu na Rua do Riachuelo é a do célebre abolicionista José do Patrocínio, que se casou com sua tia Maria Henriqueta vencendo todos os preconceitos da família desta, pelo fato de ser negro. Menino ainda, na casa do tio, conheceu gente famosa, como Machado de Assis e Joaquim Nabuco. Sua mãe, quando viúva, chegou a entreter um flerte com Olavo Bilac, com o qual, por pouco, não se casou.
. Os 75 anos do pintor foram muito bem comemorados. A edição do Correio da Manhã publicou
sábado, 12 de novembro de 2016
MACHADO DE ASSIS...
. Rua da Lapa, 264 - Centro
...o bruxo do Cosme
Velho
Foi um dos fundadores e primeiro presidente da Academia Brasileira de
Letras
Mulato e vítima de preconceito, Joaquim Maria Machado de
Assis é considerado o maior
escritor brasileiro e um mestre de nossa língua. Cronista, contista, dramaturgo,
jornalista, romancista, crítico e ensaísta, nasceu na Zona Portuária, em 21 de
junho de 1839, filho de pais pobres e mestiços.
Da casa onde nasceu Machado de
Assis, na Ladeira do Livramento 65, só
restam ruínas do que poderia ter sido a residência, mas sem comprovação.
Criado por sua madrasta, após a morte dos pais, Machadinho, como era
conhecido, era um autodidata, tendo frequentado somente o ensino fundamental em
escola pública, no bairro de São Cristóvão, onde morava. Empenhado em aprender,
aproximava-se de pessoas que pudessem lhe trazer ensinamentos, como a francesa
dona de uma padaria do bairro, que lhe ensinou francês.
No início de seu casamento com D. Carolina, o casal viveu na Rua do Fogo
119 - atual Rua dos Andradas
- mudando-se em seguida para uma nova casa, alugada, na Rua do Catete 206, onde viveram por 24 anos. Era um sobrado com
jardim e varanda, muitas árvores, recheado de tapetes e bordados tecidos pela
própria Carolina.

Em 1874, o escritor e sua mulher, Carolina, viveram por 11 meses no imóvel, da Rua da Lapa 264 (à época em que o escritor ocupou o imóvel, o número era 94), um casarão agora tombado pelo Patrimônio Histórico.
Em 1861, ainda morando no Catete, publica seu primeiro livro Queda que as mulheres têm para os tolos, onde já exercita seu estilo “urbano, aristocrata, reservado e cínico”, segundo alguns de seus críticos.
A
partir de 1883, Machado de
Assis e sua Carolina – não tiveram filhos – foram viver no
célebre chalé nº 18, da Rua Cosme
Velho, 174.
Mas
Machado de Assis teve ainda outros quatro endereços na cidade do
Rio:
Após a morte da mulher, em 1904, Machado dedica-lhe o soneto À Carolina, considerado uma obra-prima da poesia.

Querida, ao pé do leito derradeiro
Em que descansas dessa longa vida,
Aqui venho e virei, pobre querida,
Trazer-te o coração do companheiro.
Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro
Que, a despeito de toda humana lida,
Fez a nossa existência apetecida
E num recanto pôs um mundo inteiro.
Trago-te flores, - restos arrancados
Da terra que nos viu passar unidos
E ora mortos nos deixa separados.
Que eu, se tenho nos olhos malferidos
Pensamentos de vida formulados,
São pensamentos idos e vividos.
- Rua São Luiz Gonzaga, número 48 em São Cristóvão, após a morte da mãe;
- Rua Matacavalos (atual Rua Riachuelo), no Centro do Rio, que dividiu com o amigo Ramos Paz, entre os anos de 1860 e 1861;
- Em 1871, o casal mudou-se para o segundo andar do imóvel situado na Rua Santa Luzia, número 54, e lá ficaram por três anos;
- em 1875, mudou-se para a Rua das Laranjeiras, número 4, no Largo do Machado, onde com Carolina permaneceu por três anos no imóvel.
Após a morte da mulher, em 1904, Machado dedica-lhe o soneto À Carolina, considerado uma obra-prima da poesia.

Querida, ao pé do leito derradeiro
Em que descansas dessa longa vida,
Aqui venho e virei, pobre querida,
Trazer-te o coração do companheiro.
Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro
Que, a despeito de toda humana lida,
Fez a nossa existência apetecida
E num recanto pôs um mundo inteiro.
Trago-te flores, - restos arrancados
Da terra que nos viu passar unidos
E ora mortos nos deixa separados.
Que eu, se tenho nos olhos malferidos
Pensamentos de vida formulados,
São pensamentos idos e vividos.
Sua vasta obra abrangeu peças teatrais, poemas, crônicas sobre o
cotidiano, críticas literárias e teatrais e
romances.
Machado de Assis faleceu no Rio, em 1908.
Machado de Assis faleceu no Rio, em 1908.
sábado, 5 de novembro de 2016
TIA CIATA
. Rua Visconde de Itaúna, 117 - Centro
Logo na chegada ao Rio de Janeiro, Tia Ciata conheceu Noberto da Rocha Guimarães e acabou ficando grávida de sua primeira filha, Isabel. Mas acabou se separando e, para se sustentar, começou a trabalhar como quituteira na Rua Sete de Setembro, sempre paramentada com suas vestes de baiana: saia bordada a ouro ou seda, sandália acompanhando o bordado da saia. Seu tabuleiro era famoso e farto, repleto de bolos e manjares que faziam a alegria dos transeuntes de todas as classes sociais.
Mais tarde formou nova família ao se casar com João Baptista da Silva, funcionário público com quem teve 14 filhos.Tiveram uma relação longa, definitiva e fundamental na sua própria afirmação no meio negro. Dele ficou viúva em 1910.
Na famosa política do “bota-abaixo” de Pereira Passos, em 1904, o Centro não mais poderia ter casas de cômodos e seus antigos ocupantes se transferiram para a Zona Norte ou para a Cidade Nova – caso de tia Ciata, que se estabeleceu então no famoso endereço da Rua Visconde de Itaúna, 117 ( atual Rua de Santana) , em frente à Praça Onze, onde morou até morrer, em 1924. Era um casarão de 6 quartos, 2 salas, um longo corredor e quintal com árvores, dentre elas um abacateiro.
A casa de Tia Ciata ficava na localidade no entorno, onde hoje existem o edifício conhecido como "Balança mas não cai" e a Escola Municipal Tia Ciata.
Foto de 1941( fotógrafo ignorado),
pouco antes de sua demolição para abertura da Avenida Presidente Vargas
pouco antes de sua demolição para abertura da Avenida Presidente Vargas
Em sua casa, as festas eram famosas e se arrastavam por dias. Ora celebrando seus orixás, como nas de Cosme e Damião e de Nossa Senhora da Conceição , ora nas profanas, onde se destacavam a música da melhor qualidade, as rodas de partido-alto, que ela, partideira reconhecida, cantava com autoridade respondendo aos refrões e dança, inclusive o miudinho, uma forma de dançar de pés juntos, na qual Tia Ciata era mestra.
E foi assim nesse ambiente de bambas, que na casa de Tia Ciata nasceu o samba, ritmo que nesse ano , nesse mês de novembro, comemoramos 100 anos, fruto dessas reuniões e de frequentadores habituais como Donga, Mauro de Almeida - autores desse primeiro samba, Pelo Telefone - Heitor dos Prazeres, João da Baiana, Sinhô, Pixinguinha, dentre outros.
Ela, que veio do Recôncavo Baiano, morou no Rio em algumas ruas do Centro
- Rua General Pedra, seu primeiro endereço (extinta rua da região Catumbi/ Cidade Nova)
- Rua Dos Cajueiros (também extinta da região Catumbi/ Cidade Nova)
- Rua da Alfândega, 304
- Rua Visconde de Itaúna, 117 , seu endereço mais famoso.
Tia Ciata tornou-se uma espécie de primeira dama das comunidades negras.Era procurada para dar conselhos devido sua inteligência, sabedoria e generosidade. Todos os dias servia gratuitamente, em sua casa, almoço para trabalhadores e pessoas carentes.
Morreu em 1924, respeitada na cidade, coisa de cidadão, muito longe da realidade comum dos negros de sua época.
Morreu em 1924, respeitada na cidade, coisa de cidadão, muito longe da realidade comum dos negros de sua época.
Curiosidade:
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domingo, 30 de outubro de 2016
sábado, 29 de outubro de 2016
RONALDO BÔSCOLI
Carioca, aniversariante de outubro, através de seu olhar de jornalista e do grupo que, a partir de 1957, reunia-se no apartamento de Nara Leão para tocar e cantar músicas, Ronaldo Fernando Esquerdo Bôscoli (1928-1994) foi o porta-voz de uma tendência musical que surgia no Brasil do final dos anos 50: a Bossa Nova. E acabou se tornando um de seus mais marcantes compositores.
Rio, na interpretação ímpar de Leni Andrade, que sempre encerra seus shows com essa canção.

Bôscoli produziu um dos shows históricos da Bossa Nova: o Show da Escola Naval, em novembro de 1959; idealizou o primeiro pocket-show - expressão criada por ele - no Little Club, no Beco das Garrafas, juntamente com Luis Carlos Miele, que seria seu grande parceiro em produções e com ele durante 24 anos, criou os espetáculos de Roberto Carlos.
Roberto e Bôscoli em 1981
Outro endereço de Bôscoli, no Rio, foi a famosa Casa Branca de um condomínio onde viveu durante o casamento com Elis Regina, encravada na Avenida Niemeyer, em São Conrado, comprada por Elis, que tinha um portão de madeira aberto para uma vila de casas que escalam a encosta da serra e ficam de face para o Atlântico.
Piscina da casa
Também pudera...sobrinho-bisneto da compositora Chiquinha Gonzaga, tinha a veia musical no sangue. Fez parcerias afinadas com Chico Feitosa, Luis Carlos Vinhas, Normando, Luis Bonfá, Luiz Eça, Wilson Simonal, Carlos Lyra. Mas foi Roberto Menescal seu maior parceiro, com quem compôs O barquinho - música com diversas gravações no Brasil e no exterior -, Nós e o mar, Telefone, Vagamente, Ah! Se eu pudesse, A Volta, Rio.
Rio, na interpretação ímpar de Leni Andrade, que sempre encerra seus shows com essa canção.

Bôscoli produziu um dos shows históricos da Bossa Nova: o Show da Escola Naval, em novembro de 1959; idealizou o primeiro pocket-show - expressão criada por ele - no Little Club, no Beco das Garrafas, juntamente com Luis Carlos Miele, que seria seu grande parceiro em produções e com ele durante 24 anos, criou os espetáculos de Roberto Carlos.
Roberto e Bôscoli em 1981
O edifício marfim
da Rua Visconde de Pirajá, 22

( foto de 1967)

Curiosidades:
- Famoso por polêmicas, uma que se tornou clássica foi a protagonizada por ele e Antônio Maria. A Bossa Nova, gestada nas mesmas noites de Copacabana, questionava o samba-canção e seu estilo que cantava a dor, a desesperança.Foram respostas cáusticas de Maria em O Jornal, e enfrentamentos de finais inesperados, como no episódio da boate Duvivier no Beco das Garrafas, quando Antônio Maria resolveu tirar satisfações com Boscoli. Na hora H, Aloysio de Oliveira saindo em defesa do amigo, urinou nos pés de Maria, que frente ao inesperado caiu na gargalhada, e ... tudo acabou "em samba", ou melhor, em uísque no Little Club.
- As primorosas letras que criou para suas composições mostram um poeta derramado, romântico, sempre de quatro por um amor. Conta-se que a canção ”A volta” chamava-se “Mila”, mas Elis se apaixonou pela música e se recusou gravá-la com este título. O Lobo, bobo, cedeu.
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