. Rua Pompeu Loureiro, 106 - Copacabana
Da infância pobre ao reconhecimento nacional, Dercy Gonçalves (1907 – 2008) foi Nossa Vizinha Ilustre no “Edifício Jacy" , da década de 1950, localizado na Rua Pompeu Loureiro nº106, em Copacabana. Com dez andares e vinte apartamentos, a construção foi residência da atriz, cantora e humorista.
Famosa por sua participação na produção cinematográfica brasileira das décadas de 40 e 50, as célebres chanchadas, Dolores Gonçalves Costa, mais conhecida como Dercy Gonçalves, nasceu em Santa Maria Madalena e estaria completando, segundo sua certidão de nascimento, 110 anos nesta sexta-feira, dia 23 de junho de 2017.
Reconhecida pelo Guinness Book como a atriz com maior tempo de carreira na história do showbiz (86 anos),a sua origem foi o teatro de revista.
Celebrada por suas entrevistas irreverentes, bom humor e emprego constante de palavras de baixo calão, foi um dos maiores expoentes do teatro de improviso no Brasil.
Filha de um alfaiate e de uma lavadeira, Dercy nasceu no interior do estado do Rio de Janeiro, em 1905, mas só foi registrada em 1907, como ela mesma contava. Abandonada pela mãe ainda pequena foi criada pelo pai alcoólatra. Desde cedo manifestou aptidão para a carreira artística e fez suas primeiras apresentações no coral da igreja, em procissões e festas locais. Começou assim a alimentar o sonho de ser cantora e a cidade se tornou pequena para seu talento e espírito transgressor.
Aos 16 anos, conheceu e fugiu com Eugenio Paschoal, cantor da Companhia Maria Castro, que visitava a cidade, entrando definitivamente para o mundo do espetáculo. Com o nome artístico de Dercy Gonçalves, formou com Paschoal a dupla Os Paschoalinos, cuja estreia se deu na cidade de Leopoldina, em Minas Gerais.
Após uma tentativa fracassada de fixar-se em São Paulo, a dupla retornou ao Rio de Janeiro, em 1932, passando a se apresentar na Casa do Caboclo com o espetáculo Minha Terra, cujo sucesso foi interrompido pela tuberculose contraída pela artista. Já afastada de Paschoal e amparada pelo empresário Ademar Martins, Dercy internou-se para tratamento em um sanatório em Minas Gerais. Apaixonado por ela, Ademar, apesar de casado, tornou-se pai de sua filha Decimar, nome formado pela junção de Dercy e Ademar.
Recuperada e de volta ao Rio, Dercy especializou-se em comédia e participou do auge do Teatro de Revista Brasileiro, brilhando nas peças As Filha de Eva e Do que Elas Gostam, com a Companhia Jardel Jércolis, da qual se tornou a principal estrela. Estes espetáculos lotaram durante meses o Teatro República.
Sua estreia no cinema se deu na Cinédia, em 1943, com o filme Samba em Berlim, de Luís de Barros, com quem filmou também Caídos do Céu, em 1946. Já na Cinedistri, alcançou sucessos de bilheteria com os filmes Depois eu Conto, de José Carlos Burle, Absolutamente Certo, de Anselmo Duarte e Uma Certa Lucrécia, de Fernando de Barros.
No embalo de seu grande sucesso no cinema, Dercy registrou em celuloide as peças Cala a Boca, Etelvina e Minervina Vem Aí, ambas de Eurides Ramos.
Sua própria produtora surgiu em 1947: a Companhia Dolores Costa Bastos. Em parceria com Walter Pinto, produziu Tem Gato na Tuba, contracenando com Walter D’Ávila e batendo recordes de bilheteria. Ainda como produtora, lançou Burletas, com Luz del Fuego, Elvira Pagã e Zaquia Jorge e, em 1951, alcançou mais um sucesso: Zum Zum, com a participação de Ankito. Foi nesta época que Dercy transferiu-se para a capital paulista, passando a atuar no Teatro Cultura Artística.
Em 1958, filmou com Watson Macedo aquele que é considerado seu melhor trabalho no cinema: A Grande Vedete. Neste filme, além da irreverência de sempre, Dercy tem oportunidade de interpretar um papel dramático: uma vedete, dona da Companhia, que perde seu lugar de destaque para uma jovem artista, que rouba também o coração de seu namorado.
Nos primórdios da televisão no Brasil, Dercy ingressou na TV Tupi, participando do Grande Teatro. Entretanto, o sucesso só surgiu em 1961, na TV Excelsior, com o programa Viva o Vovô Deville, de Sergio Porto, no quadro A Perereca da Vizinha, e no teleteatro Dercy Beaucoup, de Carlos Manga, com sátiras de personagens como Cleópatra e Julieta.
Dercy chegou a ser a atriz mais bem paga da TV Excelsior, onde, em 1963, conheceu o executivo José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni. Passou também pela TV Rio e, já na TV Globo, com a ajuda de Boni, passou a trabalhar com Walter Clark. De 1966 a 1969, apresentou na TV Globo um programa de variedades, utilidade pública e entrevistas, Dercy de Verdade, um dos primeiros sucessos da emissora, com 70% de audiência aos domingos, que acabou saindo do ar em virtude da intensificação da censura, após a entrada em vigor do AI-5.
Durante a década de 70, Dercy continuou a atuar na televisão, participando do quadro Jogo da Velha, do Domingão do Faustão, ao mesmo tempo em que encenava no teatro comédias de costumes. Suas apresentações conquistavam um público cada dia mais expressivo, apesar de sua irreverência e do moralismo da época. Nesses espetáculos, passou a introduzir monólogos, nos quais relatava dados autobiográficos.
No final dos anos 1980, quando a censura permitiu maior liberalismo na programação, Dercy passou a integrar o corpo de jurados de programas populares, como o de Silvio Santos, e a participar de telenovelas. Montou, também, a peça autobiográfica Burlesque. De volta ao SBT, passou a comandar um programa próprio, que, entretanto, teve curtíssima duração.
Sua carreira foi pautada pelo individualismo, tendo sofrido, já idosa, um desfalque em suas finanças por parte de um empresário inescrupuloso, o que a fez retomar aos palcos, já octogenária.
No dia 23 de junho de 2007, Dercy Gonçalves completou cem anos com uma festa na Praça Coronel Braz, no centro do município de Santa Maria Madalena, sua cidade natal. Na festa, Dercy comeu bolo, levantou as pernas, fazendo graça para os fotógrafos, falou palavrão e saudou o povo, que parou para acompanhar a comemoração. Nunca Dercy foi tão Dercy. Embora oficialmente estivesse completando cem anos, Dercy afirmava que, como seu pai a registrou com dois anos de atraso, estaria, na verdade, completando 102 anos de idade.
Este também foi o mês em que Dercy subiu pela última vez em um palco: na comédia teatral Pout-PourRir, espetáculo criado e dirigido pela dupla Afra Gomes e Leandro Goulart, comemorando "Cem Anos de Humor", com direito à festa, autógrafos de seu DVD biográfico e uma sala recheada de fãs, celebridades e jornalistas.
Foi uma noite inesquecível. Dercy foi entrevistada pelo ator Luís Lobianco e deixou para a posteridade duas frases memoráveis: quando perguntada se ela tinha medo da morte, Dercy, sempre irreverente respondeu: "Não tenho medo da morte, a morte é linda, mas a vida também é muito boa". No fim da festa, após cortar o bolo com as próprias mãos e atirar nos atores, diretores e plateia, fez o público emocionar-se ainda mais, dizendo: "Eu vou sentir falta de vocês, mas vocês também vão sentir a minha".
Homenagens
Em 1985, recebeu o Troféu Mambembe, numa categoria criada especificamente para homenageá-la: Melhor Personagem de Teatro.
Em 1991, foi enredo ("Bravíssimo - Dercy Gonçalves, o retrato de um povo") do desfile da Unidos do Viradouro, na primeira apresentação da escola no Grupo Especial das escolas de samba do Carnaval do Rio de Janeiro. Na ocasião, Dercy causou polêmica ao desfilar, no último carro, com os seios à mostra.
Dercy de Verdade é o título dado à minissérie sobre a vida da atriz, de autoria de Maria Adelaide Amaral, autora também de sua biografia. A minissérie estreou no dia 10 de janeiro de 2012 e teve quatro capítulos.
Em 4 de setembro de 2006, aos 99 anos, recebeu o título de cidadã honorária da cidade de São Paulo, concedido pela Câmara de Vereadores desta capital.
Dercy Gonçalves morreu no dia 19 de julho de 2008, aos 101 ou 103 anos de idade. Encontra-se sepultada em Santa Maria Madalena em um mausoléu especialmente construído para a grande artista. O estado do Rio de Janeiro decretou luto oficial de três dias em sua memória.
coletânea de cenas de Dercy, no cinema
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