sábado, 5 de novembro de 2016

TIA CIATA


 . Rua Visconde de Itaúna, 117 - Centro 

Hilária Batista de Almeida (1854-1924), a Tia Ciatanasceu na Bahia, em Santo Amaro da Purificação no dia de São Jorge, 23 de abril,  Aos 22 anos, mudou-se para o Rio de Janeiro , em busca de melhores oportunidades, como muitos baianos naquela época. 



 Logo na chegada ao Rio de Janeiro, Tia Ciata conheceu Noberto da Rocha Guimarães e acabou ficando grávida de sua primeira filha, Isabel. Mas acabou se separando e, para se sustentar, começou a trabalhar como quituteira na Rua Sete de Setembro, sempre paramentada com suas vestes de baiana: saia bordada a ouro ou seda, sandália acompanhando o bordado da saia. Seu tabuleiro era famoso e farto, repleto de bolos e manjares que faziam a alegria dos transeuntes de todas as classes sociais. 

Mais tarde formou nova família ao se casar com João Baptista da Silva, funcionário público com quem teve 14 filhos.Tiveram uma relação longa, definitiva e fundamental na sua própria afirmação no meio negro. Dele ficou viúva em 1910.

Na famosa política do “bota-abaixo” de Pereira Passos, em 1904, o Centro não mais poderia ter casas de cômodos e seus antigos ocupantes se transferiram para a Zona Norte ou para a Cidade Nova – caso de tia Ciata, que se estabeleceu então no famoso endereço da Rua Visconde de Itaúna, 117 ( atual Rua de Santana) , em frente à Praça Onze, onde morou até morrer, em 1924. Era um casarão de 6 quartos, 2 salas, um longo corredor e quintal com árvores, dentre elas um abacateiro.

A casa de Tia Ciata ficava na localidade no entorno, onde hoje existem o edifício conhecido como "Balança mas não cai"  e a Escola Municipal Tia Ciata.


Foto de 1941( fotógrafo ignorado),
 pouco antes de sua demolição para abertura da Avenida Presidente Vargas

Em sua casa, as festas eram famosas e se arrastavam por dias.  Ora  celebrando seus orixás,  como nas de Cosme e Damião e de Nossa Senhora da Conceição , ora nas profanas, onde se destacavam a música da melhor qualidade, as rodas de partido-alto, que ela, partideira reconhecida, cantava com autoridade respondendo aos refrões e dança, inclusive miudinho, uma forma de  dançar de pés juntos, na qual Tia Ciata era mestra.

E foi assim nesse ambiente de bambas, que na casa de Tia Ciata nasceu o samba, ritmo que nesse ano , nesse mês de novembro, comemoramos 100 anos, fruto dessas reuniões e de frequentadores habituais como  Donga, Mauro de Almeida  - autores desse primeiro samba, Pelo Telefone  - Heitor dos Prazeres, João da Baiana, Sinhô, Pixinguinha, dentre outros.

Ela, que veio do Recôncavo Baiano, morou no Rio em algumas ruas do Centro
  • Rua General Pedra, seu primeiro endereço (extinta rua da região Catumbi/ Cidade Nova)
  • Rua Dos Cajueiros (também extinta da região Catumbi/ Cidade Nova)
  • Rua da Alfândega, 304
  • Rua Visconde de Itaúna, 117 , seu endereço mais famoso.
Tia Ciata  tornou-se uma espécie de primeira dama das comunidades negras.Era procurada para dar conselhos devido sua inteligência, sabedoria e generosidade. Todos os dias servia gratuitamente, em sua casa, almoço para trabalhadores e pessoas carentes. 

Morreu em 1924, respeitada na cidade, coisa de cidadão, muito longe da realidade comum dos negros de sua época.

Curiosidade:

  • Tia Ciata era famosa por seu lado curandeiro - muito reprimido naquela época -  e foi justamente um investigador de polícia, conhecido como Bispo que proporcionou a ela uma interessante história envolvendo o presidente da República, Wenceslau Brás, adoentado, em virtude de uma ferida na perna que os médicos não conseguiam curar .Incorporando um orixá, Tia Ciata recomendou ao presidente que fizesse uma pasta feita de ervas e ele ficou bom e em troca ofereceu a realização de qualquer pedido. Tia Ciata pediu, apenas, um trabalho no serviço público, para seu marido, e justificou dizendo "pois minha família é numerosa".

Um comentário:

Daniel Sales disse...

Tia "Asseata", ou "Ciata". Em sua casa o samba ganhou "Asas".