quarta-feira, 1 de agosto de 2018

PAULO BITTENCOURT e AUGUSTO RODRIGUES

Uma das notícias mais alvissareiras publicadas em 2018, foi a compra, restauração e futura revitalização das casas que compõem o Largo do Boticário, no Cosme Velho (na altura do número 822), por uma rede de hotéis, que ali instalará um complexo hoteleiro moderno, a ser inaugurado em 2020.



O Largo do Boticário é um dos poucos lugares da cidade onde se pode ver o rio Carioca correr a céu aberto. Próximo ao Largo podem ser encontrados ainda outros marcos históricos do bairro do Cosme Velho como o Solar dos Abacaxis e a casa de Roberto Marinho.

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O nome do Largo deriva de Joaquim Luís da Silva Souto, boticário que comprou terrenos no Cosme Velho e mudou-se para o local por volta de 1831. Em 1846, ali viveu o marechal Joaquim Alberto de Souza Silveira, frequentador da corte e padrinho de nascimento de Machado de Assis.

A definitiva feição do Largo começou a ser dada nos anos 20, quando Edmundo Bittencourt comprou o terreno e começou a construir as nove casas em estilo neocolonial. O estilo foi mantido nas décadas de 30 e 40 pelo diplomata e colecionador de arte Rodolfo da Siqueira, que era arquiteto amador e viveu no Largo entre 1928 e 1941, e por Paulo Bittencourt e sua primeira mulher Sylvia de Arruda Botelho Bittencourt, herdeiros do Correio da Manhã. Algumas destas casas foram reformadas com a supervisão dos arquitetos Lucio Costa e Gregori Warchavchik, utilizando materiais autênticos da época colonial, provenientes de demolições realizadas na cidade.

Das seis casas do Largo do Boticário, duas foram ocupadas por moradores ilustres, que ali residiram e ligaram suas vidas à própria história da cidade: 
Paulo Bittencourt  e  Augusto Rodrigues
cujos perfis destacamos neste mês.



PAULO BITTENCOURT

  . Largo do Boticário, casa 20   

Resultado de imagem para paulo bittencourt correio da manhãPaulo Bittencourt (1895-1963) nasceu no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, e morreu em  Estocolmo, na Suécia. Seu pai, o jornalista Edmundo Bittencourt, foi o fundador do jornal Correio da Manhã, em 1901, um dos mais importantes periódicos da antiga capital da República.






Cursou a Universidade de Cambridge, na Inglaterra, e a Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais do Rio de Janeiro, bacharelando-se em 1918. Integrou em 1919 a delegação brasileira à Conferência de Paz de Versalhes e começou a trabalhar por essa época no jornal de seu pai, onde viria a ser redator-chefe e articulista.

Paulo Bittencourt foi nosso vizinho ilustre no casarão de número 20 do Largo do Boticário. Projetado pelo arquiteto Lucio Costa e erguido em 1937, o casarão de estilo colonial e cor rosa, é tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural. A mansão tem jardins projetados por Burle Marx e, como quintal, parte da Floresta da Tijuca. Na entrada há um grande portal, ladeado por antigas colunas de granito rescaldadas de antigas casas demolidas, umaescadaria helicoidal que liga a área social com a familiar, que originalmente tinha degraus em mármore rosa, é feita em madeirame e leva ao salão nobre da antiga mansão, uma sala ampla com a galeria superior, em cujas paredes estavam expostas as obras de arte da família Bittencourt.  Os dias de auge foram nos anos 60 e 70, quando passaram por seus salões inúmeras personalidades brasileiras e estrangeiras, atraídas pelas festas e reuniões realizadas pelos ilustres moradores. 




A jornalista Sylvia Bittencourt, conhecida como Dona Majoy, faleceu no 30 de janeiro de 1995, no Largo do Boticário, em sua casa de número 20, onde ela continuou a residir após sua separação de Paulo Bittencourt. Niomar Moniz Sodré, segunda mulher de Paulo Bittencourt, sucedeu-o na direção do Correio da Manhã, após sua morte até o fechamento do jornal em 1974.

Em 2010, a casa rosa foi palco da mostra de decoração Casa Cor.



AUGUSTO RODRIGUES

  . Largo do Boticário, casa 1  


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Foi  a casa de Augusto Rodrigues (1913 – 1993) educador, pintor, desenhista, gravador, ilustrador, caricaturista, fotógrafo e poeta. Augusto Rodrigues nasceu no Recife em 1913, tendo realizado sua primeira exposição individual, aos 20 anos, no Recife, iniciando suas atividades como ilustrador e caricaturista no Diário de Pernambuco.

Ao lado de Guignard e Candido Portinari, dentre outros artistas, expôs, pela primeira vez, em 1934, na Associação dos Artistas Brasileiros, no Rio de Janeiro, transferindo-se no ano seguinte para nossa cidade e tornando-se colaborador de jornais e de revistas como O Estado de S. Paulo e O Cruzeiro e participando da fundação e do planejamento dos jornais Folha Carioca, Diretrizes e Última Hora.
Nas diversas atividades artísticas desenvolvidas por Augusto Rodrigues, uma característica comum é sua permanente preocupação com a função da arte. Defendia ser esta a forma pela qual a cultura se manifesta mais significativamente, daí a importância de difundi-la.

Com a colaboração de Lúcia Alencastro, Oswaldo Goeldi, Vera Tormenta, Fernando Pamplona e Humberto Branco, fundou, em 1948, a Escolinha de Arte do Brasil.

A criação da Escolinha de Arte do Brasil - primeira do gênero no país - é um exemplo do empenho de Rodrigues em renovar os métodos da educação artística para crianças e adultos. Com base nas ideias do historiador e crítico de arte Herbert Read, procurou incluir, no processo de ensino, pesquisas poéticas que estimulassem a criança a desenvolver sua própria singularidade. Essa iniciativa torna-se importante referência para o desenvolvimento da arte-educação no Brasil.

Augusto Rodrigues foi nosso vizinho ilustre na casa n° 1, do Largo do Boticário, que tinha jardins de Burle Marx
casa de Augusto Rodrigues, a casa amarela à esquerda


Ali foram feitas cenas internas do filme “007 contra o foguete da morte” e inúmeras novelas.


Augusto Rodrigues vestia-se de maneira informal, gostava de passarinhos, dos amigos, e de casa cheia. Era um galanteador, un bon vivant e trazia para seus trabalhos a liberdade dos traços que buscavam integrar pintura e desenho. Entre seus temas, a mulher era personagem constante, e, significativa também, a presença de elementos ligados à cultura popular pernambucana, como o frevo e a dança de roda.

O artista participou de importantes mostras e exposições no Rio e em São Paulo, tendo obtido o prêmio de viagem ao exterior na categoria desenho, no 2º Salão Nacional de Arte Moderna. Publicou também livros de poesia: 27 Poemas e A Fé entre os Desencantos, ambos na década de 70.

Em 1989, lançou Largo do Boticário - Em Preto e Branco, com 80 fotografias tiradas no decorrer dos anos em que morou no local.

Um comentário:

AJ Caldas disse...

Excelente, esclarecedor, agradável como sempre. Obrigado.