sexta-feira, 14 de setembro de 2018

DJANIRA



  . Rua Almirante Alexandrino, 2603 - Santa Teresa   


Resultado de imagem para condomínio Vila Jardim Cecília – Santa. Teresa onde morou djanira
De origem humilde, nascida em Avaré, interior paulista, descendente de imigrantes austríacos e neta de índios guaranis, Djanira (1914-1979) mudou-se ainda criança com a família para Porto União, em Santa Catarina. Ao regressar à sua cidade natal, trabalhou nos cafezais da região e suas lembranças da gente simples do campo foram projetadas em seus quadros.


Na foto com seu cão Horácio

Ao se instalar em Santa Teresa, no Rio de Janeiro, em 1939, adquiriu a Pensão Mauá, que se tornou local de convívio de diversos artistas e intelectuais da época. Em 1940, Djanira passou a ter aulas com os pintores Emeric Marcier e Milton Dacosta, seus hóspedes na pensão. Nesse mesmo ano, passou a frequentar o curso noturno do Liceu de Artes e Ofícios.

Pintora autodidata, buscava inspiração em cenas do cotidiano e nas paisagens brasileiras e reproduziu em sua pintura, de maneira singela e poética, a paisagem nacional em um estilo chamado de arte primitiva, com linhas e cores simplificadas. Em sua obra coexistem uma diversidade de cenas, como as festas folclóricas, as temáticas religiosas, o cotidiano dos tecelões, os colhedores de café, os batedores de arroz e os vaqueiros.

Comparada à Portinari, Djanira representou com perfeição a alma brasileira.

Pintora, desenhista, ilustradora e cenógrafa, Djanira foi a primeira artista latino-americana a ser representada no Museu do Vaticano, com a obra "Sant’Ana de Pé". É de sua autoria também o mural "Candomblé", encomendado por Jorge Amado para sua casa em Salvador, além do painel “Santa Bárbara”, com 130 m2, primeiramente instalado no Túnel Santa Bárbara, em Laranjeiras, e, posteriormente transferido para o Museu Nacional de Belas Artes.


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Djanira visitando o interior do Túnel Santa Bárbara onde inicialmente foi instalado seu painel

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O painel Santa Bárbara, o maior painel do Brasil, atualmente no Museu Nacional de Belas Artes

Muito religiosa, em 1963, entrou para a Ordem Terceira Carmelita, da qual recebeu o hábito com o nome de Irmã Teresa do Amor Divino. Em 1972, recebeu um diploma e uma medalha do Papa Paulo VI.

Djanira
foi nossa vizinha ilustre em Santa Teresa,
no condomínio Vila Jardim Cecília, à Rua Almirante Alexandrino, 2603. 



O carrinho azul é um monotrilho dos moradores da vila

No apartamento onde morou , Djanira produziu a maioria de suas pinturas, gravuras e desenhos.

Depois de sua morte, mais de 800 obras foram doadas ao Museu Nacional de Belas Artes – MNBA, enquanto parte do acervo permaneceu com o viúvo, o poeta e historiador José Shaw de Motta e Silva, o Motinha e com Rachel Trompowsky Taulois da Motta e Silva, amiga de Djanira e que se casou com Motinha após a morte da pintora.


Imagem relacionada

“Djanira fazia uma arte popular, 
mas com uma sofisticação única, 
de forma semelhante ao que 
Pixinguinha fez na música. 
Era uma artista única”.
                                          galerista Evandro Carneiro


Djanira da Motta e Silva faleceu no Rio de Janeiro, no dia 31 de maio de 1979.


sábado, 1 de setembro de 2018

JULIA LOPES DE ALMEIDA



  . Rua Joaquim Murtinho, 587 - Santa Teresa   

Júlia Lopes de AlmeidaNo grupo de escritores e intelectuais que se mobilizaram para criar a ABL, uma grande figura da Literatura Nacional daquele tempo ficou de fora por um pequeno detalhe, e não foi a língua, foi a saia. A carioca Júlia Lopes de Almeida (1862 - 1934), aniversariante de setembro, ficou de fora desse “panteão” por causa desse pequeno detalhe: era mulher. 

A História se esqueceu de contar a trajetória de escritores mulheres. Júlia, por exemplo, escreveu romances e peças de teatro além de livros infantis, fazendo muito sucesso na sua própria época. Também escreveu para diversos jornais e revistas, como a Gazeta de Campinas, A Semana, A Mensageira.

Júlia teve uma carreira de escritora e jornalista de mais de 40 anos. Ela defendia a educação feminina, o divórcio e a abolição da escravatura. Já preocupada com a questão do cuidado, ela defendia também a instalação de creches, naquela época. Apontada por umas como feminista e por outras como uma mera reprodutora da ideologia dominante da época. 

Desde cedo mostrou forte inclinação pelas letras, embora no seu tempo de moça não fosse de bom-tom nem do agrado dos pais, uma mulher dedicar-se à literatura. Inicia seu trabalho na imprensa aos 19 anos, em A Gazeta de Campinas, numa época em que a participação da mulher na vida intelectual é rara e incomum. Três anos depois, em 1884, começa a escrever também para o jornal carioca O País, numa colaboração que dura mais de três décadas. Mas é em Lisboa, para onde se muda em 1886, que se lança como escritora.

De volta ao Brasil, em 1888, logo publica seu primeiro romance, Memórias de Marta, que sai em folhetins em O País.

Seu estilo é marcado pela influência do realismo e do naturalismo francês, e uma das suas crônicas veio a inspirar Artur Azevedo ao escrever a peça O dote. Júlia era chamada de A George Sand Brasileira e foi uma das poucas a participar, no início do século XX, da série de conferências, inaugurada por Coelho Neto e Olavo Bilac, que gerou inúmeras polêmicas sobre o papel da mulher na sociedade brasileira.

Em entrevista ao escritor João do Rio, o marido de Júlia,  o poeta e teatrólogo português Filinto de Almeida confessou

"Há muita gente que considera D. Júlia 
o primeiro romancista brasileiro.
Pois não é? 
Nunca disse isso a ninguém,
mas há muito que o penso. 
Não era eu quem deveria estar na Academia,
era ela."

Mulher à frente de seu tempo, Júlia com uma linguagem leve, simples, cativou seu público, escreveu e publicou mais de 40 volumes entre romances, contos, narrativas, literatura infantil, crônicas e artigos. Foi abolicionista e republicana além de mostrar, em suas obras, idéias feministas e ecológicas.
Em duas fases da vida, no início do seculo XX e ao final da vida, nos anos 1930.
"Por que não o hei de enganar do mesmo modo? Em consciência, não há homens nem mulheres: há seres com iguais direitos naturais, mesmas fraquezas e iguais responsabilidades...Mas não há meio dos homens admitirem semelhantes verdades. Eles teceram a sociedade com malhas de dois tamanhos – grandes para eles, para que seus pecados e faltas saiam e entrem sem deixar sinais; e extremamente miudinhas para nós."

Júlia Lopes de Almeida, em “Eles e elas”. 2ª ed., Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1922, p. 137.



Júlia Lopes de Almeida foi nossa vizinha ilustre na Rua Joaquim Murtinho, 587, em Santa Teresa,  onde os saraus literários e musicais que promovia junto com Filinto, nos salões de casa, reuniam artistas como o pintor Eliseu Visconti, escritores como Aluísio Azevedo e poetas como Olavo Bilac.

A casa nos dias atuais se encontra bem preservada


Julia em seu escritório